Escola sem Partido desqualifica as ciências humanas e a formação para a cidadania



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Anticidadania: “Tem de trabalhar com conteúdo técnico específico”, critica Paulo Cesar

(Fotos: Arnor Ribeiro/ADUFMS-Sindicato)

O movimento Escola sem Partido surgiu dentro de uma perspectiva que aponta um cenário de declínio das ciências humanas e de construção da ideia segundo a qual a escola não tem função de contribuir na formação de cidadãs e cidadãos. Essa análise do professor Paulo Cesar Duarte Paes, integrante da Frente Estadual contra a Lei da Mordaça, assinala para a formação de pessoas no sentido estrito das habilidades para o mercado de trabalho regido pelas leis do capital. “Tem de trabalhar com conteúdo técnico específico”, criticou o docente em sua palestra durante o Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) ocorrido na quinta-feira 22 de setembro de 2016 no Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS) da instituição, na Cidade Universitária em Campo Grande.

Há uma tendência global de desqualificar disciplinas que propiciam a formação crítica na educação formal, como História, Sociologia e Filosofia. Estrutura-se então um conceito   baseado em fundamentos exclusivamente moralistas. “A escola não educa, quem educa são a família e a religião”, observou o educador Paulo Cesar da UFMS ao se contrapor a esse princípio dogmático.



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Paulo Cesar

(primeiro em pé à direita)

durante o Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática

Os conteúdos escolares se restringiriam, por exemplo, a língua e matemática. Difundem-se preceitos de que as instâncias formadoras de professoras e professores que vão atuar nos níveis fundamental e médio do ensino são doutrinadoras. Existe uma construção demonizadora de educadoras e educadores que ministram, na educação básica, aulas de disciplinas classificadas na grande área das ciências humanas.

Exacerba-se a ideologia de que nas universidades somente há espaço para teorias marxistas e feministas, explica Paulo Cesar, posicionando-se, a partir de seus estudos, contra tais opiniões e argumentando a negatividade de discursos direcionados a, entre outros ingredientes, matizes misóginos. Fundamentado em sua experiência como educador, além de suas pesquisas, o docente palestrante refutou esse posicionamento. “Quando há misoginia, quem vai identificar senão pesquisadores/as?”, indagou Paulo Cesar, ao reforçar a importância da educação de gênero.

No primeiro semestres de 2016, o principal mentor de ideias censórias à atuação de docentes em sala de aula havia confirmado participação na Roda Jurídica: Escola sem Partido ou não à Lei da Mordaça?, que estava sendo promovida pelo  pelo Centro Acadêmico Jorge Eustácio Frias   (Cajef/Direito, UFMS), em Campo Grande, mas depois se recusou a participar do evento. Confira texto sobre o debate que seria realizado:


Cancelamento de Roda Jurídica: recuo de Miguel Nagib evidencia fragilidade das ideias do movimento Escola sem Partido.


Histórico –



PROFESSORES: NÃO À LEI DA MORDAÇA

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Adufms-Sindicato participa ativamente de mobilização contra a lei da Mordaça

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Aula na praça República – Lei da Mordaça – Dia 8/4/2016 – 17h – Praça do Rádio

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Instrumento de pressão anônima

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Entidades acusam parlamentares de ‘jogo político’ com Lei da Mordaça



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Estudantes assistem à palestra de Paulo Cesar sobre Escola sem Partido

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Inconstitucionalidade, violência de gênero, conteúdos, estética e juventude




O professor Paulo Cesar Duarte Paes explicou que a falta de difusão e discussão de gênero na sala de aula “dá peso à violência”. Ele citou um caso de homofobia ocorrido em Ponta Porã (Mato Grosso do Sul), na fronteira Brasil-Paraguai. O pesquisador recordou que naquele município um homossexual foi espancado e executado com um tiro na cabeça. É o processo de estruturação da ‘cultura’ da violência. “Nós vamos sofrer as consequências disso”, alertou Paulo Cesar.

A inconstitucionalidade das propostas do movimento Escola sem Partido, expressas em projetos de lei Brasil afora, como em Campo Grande, onde neste ano, vereadores aprovaram projeto de lei censurando a atuação docente nas salas de aula da Rede Municipal de Ensino (Reme). A decisão conhecida como Lei da Mordaça foi vetada pelo Executivo Municipal. Posteriormente, sob pressão de vários setores da sociedade, teve veto acatado pelo Parlamento do Município. “Eles [os defensores da escola sem partido] lutam contra a Constituição”, argumentou o docente.

À docência atribui-se relevância na difusão e debate com as/os estudantes sobre questões relacionadas a direitos humanos a partir de trabalho de contextualização dentro da sala de aula. “O professor tem o papel de transformar conteúdos”, ponderou Paulo César. Segundo o docente, vive-se hoje a “negação do estético”, e “os espaços para a nossa juventude crescer são poucos”.

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http://adufms.org.br/2016/04/28/cajef-anuncia-o-cancelamento-do-evento-roda-juridica-escola-sem-partido-ou-lei-da-mordaca/

http://adufms.org.br/2016/04/11/nota-de-repudio-da-adufms-a-lei-da-mordaca-no-8-24216/

http://adufms.org.br/2016/04/26/adufms-retoma-acoes-contra-a-lei-da-mordaca/

http://adufms.org.br/2016/04/28/docente-da-ufms-debate-lei-da-mordaca-nesta-sexta-29/

 

http://adufms.org.br/2016/05/24/lei-da-mordaca-mantenham-o-veto-defende-sociologo/


http://adufms.org.br/2016/05/24/nao-a-lei-da-mordaca-docentes-pedem-a-vereadores-de-campo-grande-que-mantenham-veto/

http://adufms.org.br/2016/06/08/carta-de-repudio-entregue-a-vereadoresas-de-campo-grande-pelo-reverendo-hugo-sanchez-igreja-anglicana-manifesta-se-contra-a-lei-da-mordaca/

http://adufms.org.br/2016/06/10/vereadores-de-campo-grande-mantem-veto-a-lei-da-mordaca-mas-novo-projeto-sera-elaborado/



Assessoria de Imprensa da ADUFMS-Sindicato