A praça, o povo, a academia







Marco Aurélio : “É importante, [dentro da academia], identificar, saber que projetos são relevantes para a sociedade brasileira”

– Fotos: Arnor Ribeiro/ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional

Acadêmicas/os, em sua maioria das universidades federal (UFMS) e Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), ocuparam a praça Ary Coelho no Centro de Campo Grande para realizar a aula pública


Como a universidade contribui para a sociedade?


O evento fez parte da programação da Greve Geral na Capital que reuniu na sexta-feira 14 pela manhã vários segmentos como centrais, sindicatos, movimentos sociais, de estudantes e de LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis,

queers

…), trabalhadoras, trabalhadores e outros setores de Mato Grosso do Sul, mais de 15 mil manifestantes contra reforma da Previdência, corte na educação e alertando para o desemprego que assola milhões de pessoas no Brasil.







Estudantes acompanham apresentação de pesquisa que mapeia audiovisuais em Campo Grande

Na aula que aconteceu na sexta-feira 14 à tarde o presidente da

ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional

, Professor Doutor Marco Aurélio Stefanes, alertou para a necessidade de a universidade dialogar com a população, de a academia atuar extramuros.

O dirigente sindical disse que “é importante, [dentro da academia], identificar, saber que projetos são relevantes para a sociedade brasileira, qual o nosso papel”. Marco Aurélio apontou que deve ser feito trabalho de conscientização na sociedade. “Porque, atrás do discurso arrogante e rebuscado, pode ter uma ignorância escondida.”

Acrescentou o presidente da

ADUFMS Seção Sindical

: “É importante que a gente esteja questionando, inclusive nossos professores para aprimorar esse conhecimento. É preciso aprofundar isso com o professor, com o pesquisador.” A ideia é fazer com que haja entendimento sobre a função da universidade no meio social.

O professor Marco Aurélio inseriu em sua fala às/aos estudantes a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 6). “Essa reforma da Previdência é nefasta. A do Temer era muito ruim. Essa é muito pior!”, enfatizou o sindicalista, destacando que a destinação das riquezas produzidas no Brasil precisa ser repensada.  “Um dos grandes problemas do país é essa distribuição de renda vergonhosa. E a universidade tem que começar a debater isso. Somos uma das piores distribuições de renda no mundo. Estamos aumentando o nível de desigualdade.”

A queda nos investimentos sociais e a falta de políticas que gerem emprego foram lembradas por Marco Aurélio como acontecimentos que desestruturam o sonho de equidade que propicie vida digna a brasileiras e brasileiros.

Ainda na aula da praça Ary Coelho, o Professor Doutor da UFMS, historiador Lourival dos Santos, fez uma breve explicação de sua trajetória acadêmica como exemplo da relevância das universidades públicas nos aspectos social, de conhecimento, de pesquisa e de extensão. Santos ingressou na Universidade de São Paulo (USP) na década 1986 para fazer graduação. “Eu morava no

campus

(Cidade Universitária). Eu tomava café, eu jantava, de graça, no Restaurante Universitário. Foi por causa disso que tive acesso a bens culturais, científicos, muito além que a minha família até hoje pôde ter”. Na mesma universidade, Santos fez mestrado e doutorado em História Social.

O historiador apontou a gênese das instituições de ensino superior fomentadas com recursos arrecadados pelo governo federal. “Os projetos das universidades federais no Brasil apareceram nos anos 50 [década de1950], quando o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, passava por um processo de expansão das multinacionais estrangeiras”, historiou Santos. Marcadamente, a criação dessas instituições nacionais de ensino superior está atrelada a interesses do capital. “Criamos universidades públicas para a classe média brasileira. As universidades públicas brasileiras foram criadas para a classe média, para formar filhos da classe média para trabalhar para as multinacionais”, descreve o pesquisador da ciência histórica.

A definição do objetivo das universidades públicas administradas pelo Estado Nacional resultou no direcionamento curricular dessas instituições, na aceleração do tempo de estudo. “Tinha que formar rápido, porque a expansão do capitalismo precisa disso. O resultado é que nós criamos currículos herméticos, fechados, que separam a formação humana das áreas de biológica e de exatas e os distanciam das humanidades”, ponderou Santos, que disse ser desnecessário reforma no ensino médio, “porque já existem escolas que oferecem ensino profissional e ao mesmo tempo formação cidadã, que são os institutos federais. Então, o modelo já existe. Basta ampliar”.

Não só aula pública. A primeira turma de Audiovisual da UFMS também foi à praça Ary Coelho para assistir a outra aula (aberta) e apresentar a pesquisa Mapeamento dos Sistemas de Comunicação Audiovisual em Campo Grande, que englobou salas de cinema e cineclubes, TVs educativas e universitárias, rádios comercias e produtoras audiovisuais. Transeuntes, habituais frequentadores/as da Ary Coelho e parentes das/os acadêmicas/os acompanharam a apresentação do estudo cujo “objetivo geral era mapear e compreender o cenário audiovisual em Campo Grande – MS, a partir de aspectos técnicos, econômicos e políticos”.



Assessoria de Imprensa da ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional