Carta aberta do professor de Medicina Wilson Ayach à comunidade acadêmica da UFMS

Caros colegas,

⇛AGUARDEI até o último momento para dirigir-me a vocês. Espero que recebam com carinho minhas palavras, pois é com esse sentimento que as escrevo. Não poderia deixar de agradecer a todos, indistintamente, pela colaboração, parceria, empenho nesses quatro anos em que tive a honra e o orgulho de dirigir a FACULDADE DE MEDICINA que abriga o CURSO EM QUE ME GRADUEI MÉDICO. Entrei na direção da FAMED pela porta da frente e pela mesma porta a deixo de cabeça erguida. Só quem entra pela porta da frente reconhece a mesma porta na saída. Tenho a consciência tranquila pelo dever cumprido até o momento. Tudo que aconteceu nessa direção e até mesmo essa escolha pessoal do reitor me engrandecem. Tornam a mim e a todos que vestem a camisa da FAMED grandes. Como disse algumas vezes, a FAMED nos pertence. Pertencemos à Famed. Nós a cultivamos dentro de nossas mentes e corações! Cuidamos dela!

Cuidar da FAMED o fizemos e continuaremos a fazer com prazer, com alegria, com dedicação. Nestes anos que estivemos à frente da sua direção não poupamos esforços, de modo silencioso, discreto, sem alardes, sem pirotecnia para aprimorarmos a nossa faculdade. O único intuito foi aprimorar a nossa casa! Mesmo nesse aparente silêncio, houve compreensão do que se estava fazendo. Os objetivos que nos guiavam estavam claros para todos e, por isso, recebem, receberam e continuará a receber o devido reconhecimento. Há paz em nossa consciência!

Promovemos e criamos dentro da FAMED, o trabalho em equipe, que só foi possível pela criação dos espaços coletivos de reflexão, construção e pela dedicação de todos os membros da comunidade acadêmica. Esta é a marca da DEMOCRACIA: respeitar e incentivar a manifestação de todos e não tentar calar as vozes. Nesses espaços foi possível falar e ouvir, ouvir e falar. Aprendeu-se a respeitar e se fazer respeitar. Esse respeito trouxe-nos um excelente ambiente de trabalho e convivência. Aprendemos a ouvir e respeitar! Ações difíceis de se aprender! Aprender a ouvir e respeitar precisa ser contagioso. Precisa contaminar a todos!

Ouvir, refletir e respeitar sobre o que se ouve são excelentes estratégias de aprimoramento pessoal e de ajudar outras pessoas a melhorar. Mas no dizer de Arthur da Távola, como é difícil ouvir. Como é difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar! O que há em geral, ou são monólogos simultâneos trocados à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo. O que eu tenho a dizer é mais importante do que o que você diz. A minha vontade é mais importante até mesmo que a do coletivo. Ouvir é um grande desafio. Desafio de abertura interior: de impulso na direção de próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza. Ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria. Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas ou patentes em tudo aquilo que os outros estão dizendo a propósito do falar e do não-falar. Essas palavras eu li de Arthur da Távola.

Nesse momento na nova etapa da FAMED, convido a todos a ouvir e se respeitar. A manter e ampliar os espaços coletivos e construção. Sabemos que não é fácil construir a estrada em que se vai caminhar. No dizer de José Saramago em Ensaio sobre a cegueira – “se nos puséssemos a prever todas as consequências de nossos atos, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar” – demonstra de alguma maneira essa dificuldade. Mas essa reflexão sobre as consequências dos nossos atos não deve nos imobilizar e sim nos guiar para a escolha das atitudes que sejam mais produtivas e úteis e com mínimo de danos para a sociedade, para nossos familiares e para nós mesmos e, depois, com as consequências já concretizadas, refletir sobre o que é possível aprimorar quando se deparar com situações semelhantes novamente.

Comecei o texto agradecendo e assim acho justo concluí-lo, porque nessa jornada conheci pessoas maravilhosas, alunos, professores, técnicos, funcionários da limpeza etc. Aprendi muito com todos vocês. Cada um de vocês deixou um pedacinho em mim. Sempre disse que estava e não era diretor! Isso porque sempre fui ciente da efemeridade do cargo e porque tudo que fazemos nos torna o que somos. Não somos o cargo que ocupamos. E eu sou WILSON AYACH (assim, sem adjetivos ou títulos, pois meu nome me apresenta)!

MUITO, MAS MUITO MESMO, OBRIGADO, A TODOS, INDISTINTAMENTE!