Carta de solidariedade às comunidades Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul

Foto: Cimi/MS⇶AS ENTIDADES abaixo assinadas vêm a público manifestar solidariedade aos Guarani e Kaiowá do Estado de Mato Grosso do Sul, que reiteradamente vêm sofrendo ataques e ações violentas, dentre elas, por parte de “seguranças” contratados por proprietários de terra, por ataques decorrentes de intolerância étnico-racial, por interferências de relações externas ao seu modo de ser tradicional,   que estão destruindo suas estruturas culturais, familiares e territoriais,  resultando em mortes e ferimentos graves em vários indígenas, incluindo crianças. Um desses casos teria resultado, conforme denúncia encaminhada à 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria Geral da República (PGR) em Brasília, no ferimento de um jovem indígena de 14 anos, Romildo Martins Ramires, que levou 18 tiros de borracha e tiros de grosso calibre e, posteriormente, Romildo ateado em uma fogueira, em conflito com “seguranças” contratados por proprietário na área de retomada Ñu Vera Guasu e acabou não resistindo aos ferimentos (CIMI, 18/09/2019). O último conflito ocorreu no dia 3 de janeiro do corrente ano, também no Ñu Vera Guasu, que culminou no ferimento à bala de três indígenas e de um “segurança” de uma das propriedades. No dia anterior, houve um incêndio na casa de reza da Comunidade Guarani Laranjeira Nhanderu, no município de Rio Brilhante (MS). Uma situação de barbárie encontra-se instalada nessas áreas. A onda de violência que se agravou depois das eleições. Queimaram uma criança viva; outra perdeu três dedos ao pegar uma granada; uma senhora de 75 anos teve as duas pernas quebradas, quando um pistoleiro (“segurança privada”) foi derrubar um barraco com um trator blindado, chamado pelos indígenas de “caveirão” (a senhora dormia, conforme depoimento dos indígenas e só não morreu porque ficou justamente entre as rodas do trator). Esses são apenas alguns dos casos bárbaros que têm acontecido em Mato Grosso do Sul com os Guarani e Kaiowá. Negar-lhes o acesso ao território, é condenar os Guarani e Kaiowá ao desaparecimento. Reafirmamos a necessidade de manutenção do processo demarcatório das Terras Indígenas, pois trata-se de um direito pré-existente, cujo marco temporal, nas palavras de uma liderança indígena, remonta, em realidade, há mais de 500 anos. Nesse contexto, somos solidários à comunidade Guarani e Kaiowá e a todos os diferentes grupos étnicos que sofreram e sofrem processos de desterritorialização, mas que (re)existem e lutam, por recuperar suas terras tradicionais. Reiteramos a urgência, a responsabilidade e o empenho do Estado brasileiro, por parte do Ministério da Justiça e do Ministério Público Federal, na resolução da questão que envolve a demarcação das terras indígenas em Mato Grosso do Sul, fundamentais para a existência e para a redução da violência contra esses povos.  


Dourados-MS, 8 de janeiro de 2020. 


AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros (Seção Dourados) 

AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros (Nacional) 

ANPEGE – Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia 

Diretoria ADUFDourados – Sindicato das (os) Professoras (es) da UFGD   

ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional 

Comitê de Defesa Popular – Fórum de Entidades e Movimentos Populares de Dourados 

FETEMS – Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul 

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 

SIMTED de Dourados – Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação

SINTRAE-Sul – Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino da Região Sul do Estado de Mato Grosso do Sul 

SINTRAPP – Sindicato dos Servidores Municipais de Presidente Prudente e Região