Governo Bolsonaro exclui ciências humanas de edital de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)

CNPq abre chamada para 25 mil bolsas que  que excluem as áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais

O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) publicou uma chamada para 25 mil bolsas do PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, em que exclui as áreas de Humanidades, Artes e Ciências Sociais.  A partir da medida, as bolsas serão destinadas exclusivamente  às “tecnologias prioritárias” que envolvem as tecnologias de produção, estratégicas, tecnologias do desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e tecnologias habilitadoras. A declaração do CNPq aponta que somente serão tolerados os projetos de ciências humanas que estejam diretamente ligados às “tecnologias prioritárias”.

Para a Profa. Fabiany de Cássia Tavares Silva,  Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMS (PPGEDU) – o mais antigo da instituição – restringir as bolsas de ciências humanas a apenas aquelas ligadas às “tecnologias prioritárias” significa ignorar a importância das diversas áreas do conhecimento e sua relação transversal na produção científica, inclusive no que diz respeito à produção de inovações e soluções em temas comuns. “No contexto das ciências humanas e mais especificamente da

educação, trata-se de um processo inconstitucional, pela negação dos direitos aos conhecimentos aprofundados das questões que influenciam sobremaneira a qualidade da formação humana, excluindo qualquer possibilidade de reflexão crítica acerca do conhecimento, da sociedade, das contribuições já consolidadas das pesquisas realizadas pelas Universidades brasileiras”, alerta a professora.

Silva relata o contexto da pandemia como exemplo, para enfatizar a importância da transversalidade e do trabalho em conjunto das ciências humanas com as tecnologias consideradas "prioritárias" pelo CNPq: “Na pandemia sanitária que estamos vivendo, a escola e o processo educacional colocam em xeque o cotidiano normalizado de uma sociedade, impondo a recorrência às ciências da educação em suas produções em interface com a Psicologia, Sociologia, Filosofia e, particularmente, a Política Educacional, para responder a contundente questão “quando a escola deve retomar suas atividades?”, ressalta. 

De acordo com a Coordenadora, as Ciências Humanas são sim prioritárias e esta medida, inconstitucional, tem origem de fato na agenda do atual governo: “Parece-me que para o projeto de País em curso, não são necessárias pesquisas de ponta ou de excelência e, por isso, para que financiá-las por meio das Universidades Públicas? Ainda mais envolvendo jovens que irão desenvolver interesses por temáticas que mobilizam estudos da ciência produzida e a produzir”, ironiza.

 

A medida tem causado uma forte reação nas redes sociais e indignação entre docentes,  estudantes e profissionais das áreas de Ciências Humanas e Sociais que consideram a ação bolsonarista como mais um ato vindo de um projeto de governo obscurantista que se recusa ao debate e à análise da realidade social brasileira.

Para o presidente da ADUFMS, Prof. Marco Aurélio Stefanes, se trata de mais um ataque brutal à ciência e à academia brasileira, especialmente às Universidades Públicas. “O PIBIC é um programa estratégico que tem como objetivo incentivar jovens pesquisadores a produzir novos conhecimentos científicos. Se não há a possibilidade de uma formação de em todas áreas e temas, o que podemos esperar do futuro da ciência brasileira?”, questiona. 

O professor salienta o profundo caráter tecnicista da medida que busca reprimir qualquer possibilidade de reflexão aprofundada nas universidades brasileiras. “Não podemos permitir que atos como esse sigam acontecendo, medidas que querem impedir a pesquisa, o pensamento crítico e o debate sério sobre a realidade social do país. Por isso, convoco a todas e todos para que manifestem-se e participem de atos de luta contra mais esse ataque à ciência e à educação brasileira”.