Ocupação Ágatha Félix, Bloco 6 UFMS: estudantes enfrentam falta de diálogo por parte da instituição em meio a cortes de luz e ameaça de despejo


ACADÊMICOS

ocupam o bloco 6 da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desde a noite da última terça-feira (24). O intuito da ocupação, segundo os estudantes, é cobrar um posicionamento da reitoria em relação ao Projeto Future-se e apresentar a medida à população. A ação foi aprovada por unanimidade em assembleia realizada com cerca de 90 participantes.

Esta não é a primeira vez que o Bloco 6 da UFMS é ocupado por estudantes. No dia 13 de maio de 2019, ocorreu um processo semelhante. O ato culminou em protesto com mais de 10 mil pessoas em frente à universidade, contra os cortes na educação, segundo dados da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems).

Dentre as medidas já realizadas pelos estudantes, na atual ocupação, está a criação de sete comitês para garantir a manutenção do bloco. Eles se dividiram entre equipes de limpeza, infraestrutura, alimentação, segurança, comunicação, eventos e articulação política. Foram arrecadados alimentos, produtos de limpeza, colchões e roupas de cama. Além disso, foi promovida uma roda de conversa sobre o Projeto Future-se, no primeiro dia de manifestação

A ocupação iniciou por volta das 19h e não demorou muito para a UFMS se manifestar. Às 22h os estudantes receberam uma notificação extrajudicial para a desocupação do prédio, com prazo estabelecido de 30 minutos. Às 23h a energia elétrica do bloco foi cortada pela primeira vez e permaneceu assim até as 13h30 de quarta-feira (25), sendo cortada novamente quatro horas depois.

A UFMS também teria tentado impedir o acesso da imprensa na instituição. O relato é feito pela coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Fundação UFMS e IFMS (Sista-MS), Cléo Gomes. Ela denuncia que foi procurada pela equipe de reportagem do canal televisivo SBT para dar uma fala no lado de fora da universidade, pois eles foram retirados do local. “Três seguranças informaram que eles não poderiam gravar imagens aqui dentro”, relata.

Os estudantes acreditam que essas atitudes têm como propósito desmobilizar e enfraquecer o movimento. “É uma ferramenta de intimidação para que as pessoas se sintam retraídas. Por qual motivo eles tentariam impedir a divulgação do que está acontecendo aqui?”, questionam.

Os acadêmicos defendem a manifestação e garantem que ela continua por tempo indeterminado. “Nós estamos cuidando do prédio, mantendo tudo limpo e organizado. Sabemos que alguns colegas são contra o ato. Eles dizem que estamos atrapalhando as aulas, mas queremos levantar o debate sobre o Future-se, projeto que ameaça o acesso a um ensino público e de qualidade”, diz um estudante que optou por não se identificar.

Future-se

O Programa Institutos Universidades Empreendedoras e Inovadoras, FUTURE-SE, foi lançado pelo Ministério da Educação (MEC) no dia 17 de julho de 2019. Na última semana, o MEC afirmou que o objetivo do programa é promover maior autonomia financeira às universidades e institutos federais por meio de incentivo à captação de recursos próprios e ao empreendedorismo.

Uma das críticas mais recorrentes ao projeto é de que ele possui muitas lacunas para diferentes interpretações. A página de Facebook ‘Eu Defendo a UFMS’ publicou um texto de repúdio e listou 12 pontos para entender a medida. Entre os mais relevantes estão o fim de concursos públicos para a contratação de docentes, que pode resultar na quebra da isonomia do processo seletivo, e o corte de investimentos em pesquisas não lucrativas ou sem resultado imediato no mercado, que pode colocar em risco diversos projetos que atendem a população.