Retorno às aulas presenciais precisa ser feito com cuidado, preservando as pessoas mais vulneráveis, alerta infectologista

Foto: Alexandra Koch/Pixabay

Em reunião com Fórum Estadual Vacina Para Todos, Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz, falou sobre garantias para retorno presencial seguro

O Fórum Estadual Vacina Para Todos, que reúne cerca de 50 entidades representativas da sociedade civil organizada de Mato Grosso do Sul, incluindo a ADUFMS, se reuniu no dia 26 de julho com o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul para esclarecer questões acerca do andamento da campanha de vacinação contra o COVID-19 no Mato Grosso do Sul e Brasil, incluindo as pesquisas referentes à nova variante Delta, realizadas em parceria com a empresa Jansen na fronteira de MS, e o retorno às aulas presenciais no estado. 

 

Em resposta à vice-presidente da ADUFMS, Profa. Mariuza Aparecida Guimarães, sobre quais medidas deveriam ser priorizadas para um retorno seguro às aulas presenciais, o infectologista ressaltou a importância de que em um primeiro momento o principal objetivo deva ser a garantia do esquema de vacinação completa – primeira e segunda dose – de pessoas acima de 50 anos que trabalham na área da educação, tendo em vista que esta faixa etária comprovadamente é a que corre maior risco de internação e óbito ao ser contaminada pelo vírus. 

“Esse retorno (às aulas presenciais) precisaria ser feito com muito cuidado, especialmente preservando as pessoas mais vulneráveis”, alertou. Segundo Croda, é preciso compreender que mesmo após a segunda dose da vacina, pessoas acima de 50 anos ou com comorbidades não estão isentas de ter consequências mais graves caso sejam contaminadas. “Os estudos a respeito do processo de imunização ainda estão sendo desenvolvidos, mas já há dados que demonstram que algumas pessoas têm algumas predisposições genéticas em relação aos imunizantes”, explica. 

Para a Profa. Mariuza, apesar da eficácia das vacinas e do avanço da vacinação no estado, é importante lembrar que o Brasil está com uma taxa de apenas 18% de imunização e muitos alunos da UFMS moram fora do estado. “Estamos com uma taxa baixíssima de vacinação se considerarmos outros países do mundo. Justamente pelo atraso na compra das vacinas, como o Prof. Julio Croda citou várias vezes. Por isso, na nossa visão, é preciso nesse momento ampliar com urgência esse percentual de vacinação, mas também fazer um investimento sério e contínuo nas medidas sanitárias. Esse investimento precisa seguir juntamente com a vacinação”, defende a professora.  

A observação de Guimarães é respaldada pelo posicionamento do infectologista Julio Croda, que revelou que, segundo estudos, a contaminação pelo Coronavírus ocorre sobretudo no transporte público e em qualquer lugar ou evento em que haja aglomeração, especialmente nos momentos de lazer, como por exemplo, encontros de alunos nos corredores e salas da Universidade.   

Para a vice-presidente da ADUFMS há ainda muito a lutar para conseguir de fato garantir uma segurança relativamente considerável para o retorno presencial:“O que ouvimos do Prof. Julio Croda reforçou a necessidade de mobilização,da contribuição dos movimentos sociais, dos movimentos populares e da universidade para conseguirmos chegar como sociedade às medidas sanitárias que necessitamos e a um índice de cobertura vacinal que represente uma uma segurança para toda a população”.

PESQUISA – Variante Delta  

Sobre a pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a empresa Jansen referente à variante Delta do COVID-19, Julio Croda revelou que foram testadas as populações de três municípios de fronteira do Mato Grosso do Sul. “Houve a vacinação de 80% da população dos municípios de fronteira pesquisados. Teremos os primeiros resultados parciais sobre a imunização desta variante daqui 15 dias”, destacou. 

Perguntado sobre uma possível terceira dose a ser disponibilizada no Brasil, o professor respondeu que essa questão está sendo estudada e discutida, mas que, considerando os altos índices de contaminação do país, a prioridade deve ser no aumento do percentual de vacinação da primeira e segunda dose das vacinas.