Vítimas ainda denunciam Máfia do Câncer ao MPE

Quase seis meses depois do escândalo da Máfia do Câncer vir à tona com a operação Sangue Frio, realizada em 19 de março, prossegue a romaria de famílias ao Ministério Público Estadual em busca de informações sobre a morte de entes queridos. A dúvida é se o falecimento foi em virtude da doença ou atendimento inadequado.

De acordo com a promotora Paula Volpe, até hoje as pessoas buscam por respostas. Desde março, ela adotou o procedimento de repassar os dados a órgãos especializados, como Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS), ouvidoria da SES (Secretaria Estadual de Saúde) e CRMMS (Conselho Regional de Medicina).

Em julho deste ano, o MPE passou à Polícia Civil 14 casos de mortes de pacientes para verificar se houve homicídio culposo ou doloso, ou seja, se houve intenção de matar. Segundo o delegado Fernando Nogueira, foi decretado sigilo nas investigações. “Já passaram 30 dias e estamos pedindo mais prazo”, afirma.

Das mortes, uma foi no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian e as demais no Hospital do Câncer Alfredo Abrão e Santa Casa de Campo Grande. Durante operação, a PF (Polícia Federal) apreendeu documentos no Hospital do Câncer e no HU (Hospital Universitário). Também foram alvos a clínica NeoRad e a residência do médico Adalberto Abrão Siufi. Até então, ele era diretor-geral do Hospital do Câncer e um dos donos da clinica, que atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

Em março, poucos dias antes da operação, o MPE denunciou os diretores do Hospital do Câncer por autocontratação, prática proibida, e valor diferenciado para a clínica de Siufi, que recebia tabela SUS mais 70%. O Ministério Público ainda apontou a contratação de parentes do médico por valores acima do praticado no mercado. Com a operação, a direção foi afastada pelo Conselho Curador do hospital.

No HU de Campo Grande, a Sangue Frio também resultou na troca de comando. Primeiro afastado judicialmente, o diretor José Carlos Dorsa Vieira Pontes pediu para sair. Auditoria realizada pela CGU (Controladoria-Geral da União) em 2012 verificou prejuízo de R$ 973 mil aos cofres públicos. O valor foi obtido após levantamento em contratos do Hospital Universitário que somam R$ 11 milhões.

A análise trouxe à tona uma série de irregularidade: direcionamento de licitação, montagem de processos licitatórios, subcontratação de serviços para empresas ligadas a dirigentes do hospital, superfaturamento e emissão de empenho anterior à adesão em ata de registro de preços.


Varredura –

As denúncias de que a rede pública para atendimento em oncologia foi desmontada para beneficiar o setor privado trouxe o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Campo Grande. Na primeira análise, dos 250 prontuários, foi identificado o desvio de R$ 155 mil. Valor que deverá ser devolvido pela Santa Casa e pelo Hospital do Câncer.

O ministério identificou haver “supertratamento” em grande parte dos tratamentos de quimioterapia paliativa, utilizado para pacientes em estágio terminal da doença. Foi apurado que, em alguns casos, a indicação era até três vezes maior do que o tempo orientado pelos protocolos médicos.

Ao todo, os auditores analisaram 255 prontuários, sendo 78 no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian; 46 no Hospital do Câncer e 101 na Santa Casa. Também foram alvos dos auditores autorizações de procedimentos. Cento e onze foram emitidas após os pacientes terem morrido.


Audiência da dor –

Em 31 de julho, a CPI da Saúde, realizada pela Câmara Municipal, um dos desobramentos das denúncias, ouviu parentes de pessoas que morreram durante o tratamento. Emocionado, o aposentado Galbino Lima, de 59 anos, relatou a perda do genro. O paciente teve câncer gástrico e era atendido no Hospital do Câncer.

Ele contou que após análise do prontuário foi constatado que o medicamento que o genro recebia era dipirona. Ainda segundo Gabino, na avaliação da força-tarefa, o tratamento foi insuficiente.



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