Ainda indisponível, RU tem aumento de 233% no preço e estudantes protestam

Acadêmicos que não estão em vulnerabilidade social não terão alimentação subsidiada e terão de pagar 15 reais por refeição

As refeições no Restaurante Universitário (RU) da UFMS terão aumento de de 233% para estudantes que não estejam em vulnerabilidade social e inscritos no CadÚnico. Em reunião na última sexta-feira (25) com representantes do Diretório Central Estudantil (DCE) e de Centros Acadêmicos (CAs), o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Albert Schiaveto de Souza, afirmou que apenas o valor para estudantes em vulnerabilidade social será subsidiado – passando a ser de 3 reais –, enquanto demais discentes pagarão 15 reais.

Estudantes da UFMS estão sem restaurante desde que as aulas presenciais foram retomadas, no dia 7 de março – um dia após o ministro da Educação, Milton Ribeiro, comparecer à universidade para “lançar obra de ampliação” do espaço de alimentação dos acadêmicos. Na ocasião, a vice-reitora Camila Ítavo afirmou que os valores de 2 reais e 50 centavos para estudantes em vulnerabilidade e 4,50 para demais acadêmicos seriam mantidos até abril. No entanto, o RU não está disponível antes de abril.

De acordo com o Centro Acadêmico de Psicologia (Capsi) Reconstruir, Schiaveto afirmou que o RU deve voltar às atividades durante a segunda semana de abril. Estudantes têm levado marmitas prontas ou se alimentado com salgados vendidos nas unidades. A Adufms disponibilizou um microondas para o DCE. CAs também têm deixado microondas à disposição, como é o caso do próprio Capsi Reconstruir, que fez uma “vaquinha” para arrecadar o eletrodoméstico.

Gabriel Recalde, presidente do Capsi, afirma que a ideia foi deliberada em Assembleia por decisão unânime e, atualmente, o microondas está disponível na Faculdade de Ciências Humanas (Fach). “O microondas foi alocado primeiramente no Bloco VI, para atender a todos os estudantes, mas estava sendo deixado no chão. Conversamos com a professora Vivina (Sol Queiroz), que é diretora da Fach, e agora está na secretaria da Fach”.

Recalde destaca que, diante do aumento inacessível para estudantes que precisam almoçar na universidade, a perspectiva é de que o microondas continue a ser usado pela comunidade acadêmica. “Reiteramos que não é só dos estudantes de Psicologia. A expectativa é de continuar a ser usado pelos estudantes, porque como foi comprado com dinheiro dos estudantes do curso, ele se trata de propriedade coletiva. Ainda mais diante do aumento absurdo dos preços do RU”.

Já o recadastramento do auxílio para alimentação esteve disponível até o mês de janeiro, com novo edital aberto no dia 11 de março. Acadêmicos residentes em outras cidades reclamaram de não conseguir tempo hábil para apresentar todos os documentos solicitados. É o caso de um estudante de Artes Visuais que preferiu não se identificar. “O site da seleção não upava o documento do recurso e deram só dois dias para entregar a documentação comprobatória”, afirma.

Segundo o acadêmico, ele chegou a ir até a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes), onde não conseguiu resolver o problema. “Fui tirar dúvida, se podia ser feito algo e a resposta foi: ‘se você tivesse vindo mais cedo, até dava; tenta o auxílio de novo agora, o edital está para sair’. Vou tentar de novo o auxílio, que começa a ser pago em maio, até lá vou sobrevivendo”.

Protesto

No campus de Campo Grande, estudantes convocaram um ato em frente à Reitoria nesta quarta-feira (30), a partir das 9h30, contra o aumento no valor do restaurante. Caso não haja negociação por parte da universidade, a organização pretende realizar outros atos. 

“Vamos fazer outras manifestações, mas estamos esperando um número bom de alunos, porque não adianta fazer um protesto pacífico sem voz”, afirmou uma estudante que não quis se identificar por receio de represálias, como as que já ocorreram anteriormente durante a atual gestão. Em 2020, cerca de 60 estudantes foram intimados por se manifestar contra cortes de verbas no Bloco VI. Alguns deles apenas passavam pelo local.

De acordo com Gabriel Recalde, que não participa da convocação do ato no dia 30, outra manifestação tem sido articulada por representantes de CAs. O acadêmico de Psicologia afirma que uma alternativa ao modelo de subsidiação tem sido estudada. “A ideia é também procurar as contas da UFMS, para chegar com uma proposta de subsídio para eles”, explica.

Qualidade e sustentabilidade

A professora Dra. Rosemeire Almeida, coordenadora do Núcleo de Agroecologia do Bolsão (NEA-Bolsão), demonstra preocupação com o fato de que, no edital de abertura, não há especificações sobre alimentos orgânicos e/ou advindos de pequenos produtores próximos às unidades. “Não contribui para correção das desigualdades existentes no campo e fortalecimento da agricultura familiar no estado, principalmente em relação ao seu principal gargalo que é a comercialização”, afirma. 

“Temos política pública que permite a compra de produtos diretamente da agricultura familiar e suas organizações, para atendimento das demandas de alimentos de órgãos e entidades das três esferas de governo, instituída pelo Decreto nº 7.775, de 4 de julho de 2012”, explica Rosemeire. A professora pontua que está previsto, no mesmo decreto, a compra de produtos orgânicos ou agroecológicos, desde que o fornecedor esteja com registro atualizado no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

“Neste sentido, destaco que temos no estado uma atuante associação de orgânicos, a Associação de Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul (APOMS), que oferece assessoria aos agricultores agroecológicos”, prossegue Rosemeire. “Entendo que é função social da Universidade pública fomentar a participação local de agricultores familiares, bem como a ampliação e variedade de alimentos saudáveis e frescos comprados direto dos agricultores da região”.

A professora considera preocupante a presença da ministra Tereza Cristina no evento de lançamento da ampliação do RU. Para Rosemeire, a participação “cria reforço público para a política do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da base ruralista do governo Bolsonaro, centrada na defesa do modelo agroquímico de agricultura, em especial neste momento de aprofundamento das contradições socioambientais, com a aprovação do ‘PL do Veneno’, que facilita o uso de agrotóxicos no Brasil”.

Por Norberto Liberator (Assess. Comunicação)

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Nota do Centro Acadêmico de Psicologia Reconstruir:

Hoje, às 10h30 houve uma reunião do Diretório Central, outras entidades estudantis e o Pró-reitor de Assuntos Estudantis, professor Albert. A pauta da reunião foi o repasse de informações sobre o Restaurante Universitário para o corpo estudantil, que seguem abaixo:

Segundo o Pró-reitor, o PNAES detém uma verba de 16.5 milhões de reais destinada a auxílios estudantis (distribuídos entre auxilio permanência, moradia, alimentação, RU, dentre outros). Também disse que esse ano a universidade ofertou: 

– 655 vagas para auxílio permanência;

– 335 vagas para auxílio moradia;

– 100 vagas para auxílio alimentação.

Isso equivale ao atendimento de, segundo a PROAES, 25% a 30% da parcela vulnerável da universidade. Sendo que, segundo a autodeclaração do corpo discente da universidade, mais de 80% da comunidade discente é socioeconomicamente vulnerável. Ou seja, os auxílios fornecidos por si só não atendem a realidade material do corpo estudantil, o que representa um entrave no acesso e permanência a universidade para grande parte de discentes.

Ainda na parte dos auxílios, fomos informados da implementação de um valor teto para estudantes que acumulem auxílios, este sendo de 950 reais.

A PROAES informou que, como a verba da PNAES é dividida dentre várias ações, um aumento do subsidio do preço do RU representaria uma diminuição do número de auxílios disponibilizados para estudantes (mesmo que, como dito anteriormente, esse número ofertado já não seja representativo e não contempla boa parte da necessidade). Portanto, fomos informados dos seguintes novos valores do RU:

– Estudantes socioeconomicamente vulneráveis: 3 reais (0.50 centavos a mais do valor anteriormente oferecido no RU);

– Demais estudantes: 15 reais (10.50 reais a mais do valor anteriormente oferecido no RU).

Também fomos informados que a previsão de abertura do RU continua em Abril, bem como estudantes da pós-graduação não estão contemplados no subsídio, portanto pagarão 15 reais mesmo que sejam estudantes vulneráveis.

Devemos lembrar que, devido a mudanças nas regras da universidade, só estão elegíveis para o subsídio do RU, bem como os demais auxílios, discentes que possuírem o CadÚnico atualizado. Pedimos que procurem a unidade de referência do CRAS de sua região o mais rápido possível.

Entendemos a gravidade e urgência da situação, que tais ações representam um risco enorme que estudantes continuem se mantendo na universidade, que tais decisões não podem ocorrer sem que haja qualquer tipo de resistência do movimento estudantil. Isso representa, mais uma vez, repercussões de ataques a educação pública de qualidade e a permanência de diversos tipos de pessoas dentro da universidade, que deveria ser universal. 

Manteremos vocês atualizados de quaisquer novas informações, assim que estiverem disponíveis e reiteramos que não estamos alheios a este processo de sucateamento. 

Centro Acadêmico de Psicologia Reconstruir

25/03/22


Comentários

Uma resposta para “Ainda indisponível, RU tem aumento de 233% no preço e estudantes protestam”

  1. […] Além da utilização de um espaço construído pelo sindicato com recursos dos/as docentes, o RU não contempla toda a comunidade acadêmica. O valor de 3 reais nas refeições inclui apenas estudantes cuja renda per capita é de até um salário mínimo e meio, critério que exclui centenas de acadêmicos/as sem condições de arcar com o valor de 15 reais a cada refeição, o que na época representou um aumento de 233% também denunciado pela Adufms, em reportagem de 2022. […]