7-08-2020
Crescimento exponencial de casos da doença elevaram nível de alerta de 2 para 4 em duas semanas em Aquidauana e Miranda. Anastácio também subiu de 2 para 3. Relatório de pesquisadores indica que aumentar o distanciamento social social é fundamental para prevenir mortes evitáveis
⇶ EM DUAS SEMANAS EPIDEMIOLÓGICAS, níveis de alerta da microrregião de saúde de Aquidauana sobem e preocupa pesquisadores. De acordo com o Relatório Técnico de Análise Geocartográfica da Covid-19 na Microrregião de Saúde de Aquidauana-MS referente às Semanas Epidemiológicas 29ª a 31ª emitido por pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), a microrregião de saúde de Aquidauana (Mapa 1) inspira cuidados e medidas mais restritivas para evitar o avanço do novo coronavírus na região: “Entre 18 de julho e 01 de agosto, todos os municípios dessa microrregião tiveram crescimento significativo na taxa de incidência da Covid-19, com exceção do município de Bodoquena”, explicou Eva Teixeira dos Santos, doutora em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste, professora e pesquisadora da UFMS no Câmpus de Aquidauana (CPAQ).
O relatório apresenta comparações entre o período de 18 de julho e 01 de agosto e mostra que, numa escala de níveis de alerta de 1 a 5, Aquidauana e Miranda foram enquadrados no nível de Alerta 4, Anastácio e Dois Irmãos do Buriti no nível de Alerta 3, Nioaque no nível de Alerta 2 e Bodoquena no nível de Alerta 1. “Em um exercício comparativo, entre as Tabelas 1 e 2 observamos o crescimento da doença nos municípios que compõem a microrregião. Aquidauana e Miranda saltaram do nível de Alerta 2 para o nível de Alerta 4. Anastácio subiu do nível 2 para 3. Percebemos um avanço bastante acelerado da doença e não é hora de afrouxar medidas de restrições”, explica Eva Teixeira dos Santos.
Mapa 1 – Novos casos de SARS-CoV-2 no período de 18 de julho e 01 de agosto de 2020 na Microrregião de Saúde de Aquidauana-MS
Tabela 1 – Índice de Morbimortalidade por COVID-19 e Níveis de Alerta para o Enfrentamento à Pandemia da COVID-19, em 18 de julho de 2020, na Microrregião de Aquidauana-MS
Ana Paula Archanjo Batarce, professora e pesquisadora da UFMS em Aquidauana, doutora em Geografia, alerta para o crescente número de óbitos na microrregião: “Aquidauana é um centro regional e é o município que dará suporte para o atendimento das ocorrências de casos graves e gravíssimos da Covid-19. É por isso que ações preventivas são tão necessárias para evitar o agravamento dos casos e a aceleração no número de óbitos.”
O Mapa 2 demonstra a mortalidade pela doença até o dia 01 de agosto na microrregião de saúde.
Tabela 2 – Índice de Morbimortalidade por COVID-19 e Níveis de Alerta para o Enfrentamento à Pandemia da COVID-19, em 01 de agosto de 2020, na Microrregião de Aquidauana-MS
Mapa 2 – Mortalidade pela COVID-19 até 01 agosto de 2020 e o aumento relativo entre a 30ª e a 31ª semana epidemiológica de 2020 na Microrregião de Saúde de Aquidauana
Decreto de lockdown
O relatório dos pesquisadores também analisa os decretos das gestões municipais para avaliar a efetividade das ações de enfrentamento ao vírus. Em 31 de julho, o decreto municipal 114/2020 endureceu as regras de mobilidade urbana-regional e definiu o fechamento total – lockdown – por sete dias no município de Aquidauana.
"Reconhecemos que o gestor municipal teve sensibilidade em ler nossas pesquisas e considerar as recomendações dos alertas emitidos por nossa rede e pela pesquisa Prosseguir, do governo do estado. Sugerimos que a prefeitura avalie diariamente e que considere os avanços da doença nos últimos 14 dias para verificar se será necessário estender esse período de fechamento total e para a tomada de decisões”, pondera Eva Teixeira dos Santos, professora e pesquisadora da UFMS. A pesquisadora do Câmpus de Aquidauana (CPAQ) sugere, ainda, a ampliação desse período por mais sete dias.
De acordo com o professor e pesquisador da UFGD, Adeir Archanjo da Mota, doutor em Geografia e especialista em Geografia da Saúde, as gestões municipais precisam definir estratégias para a preservação das vidas e reduzir as mortes evitáveis: “Não há negociação com o novo coronavírus. Às vezes as pessoas veem o nível de Alerta 2 e 1 e acham que a doença está ‘leve’ nesses municípios. Esclarecemos que alerta é alerta. Se está em alerta é porque já saiu da normalidade.” Archanjo da Mota lembrou que relatórios de pesquisa e alerta têm sido amplamente divulgados pela imprensa e que cabe ao poder público preservar o Sistema Único de Saúde (SUS) e a vida das pessoas.
Comunicação para prevenção
De acordo com a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Fernanda Vasques Ferreira, o combate às fake news e à desinformação deve ser levado em conta pelos gestores públicos. “É um problema de saúde pública tão ou mais letal que o novo coronavírus”, comentou a comunicadora ao mencionar os estudos que realiza em relação ao tema. Para ela, o enfrentamento à doença passa, necessariamente, pela qualidade da informação e pela comunicação preventiva: “Os gestores públicos e as instituições precisam comunicar adequadamente e de forma consciente. O diálogo com a população precisa ser permanente e transparente. É preciso parar com a dicotomia entre economia e pandemia, isso também é uma forma de desinformar. O que é melhor: parar tudo e recomeçar gradativamente e com segurança ou colapsar o sistema de saúde e abrir covas rasas”, questionou a jornalista que tem pesquisa na área de comunicação, saúde e políticas públicas.
Release produzido por Fernanda Vasques Ferreira em 06/08/2020. Autorizada reprodução parcial ou integral do release