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ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional
vem a público apontar a grave situação vivida pelos/as trabalhadores/as e estudantes da UFMS bem como conclamar a sociedade civil a se organizar e lutar em defesa do patrimônio público nacional, em defesa da ciência e da tecnologia brasileiras.
Grave é a situação de docentes que se tornaram alvo de ações diversas que resultaram em processos administrativos, exonerações, assédio moral e principalmente em adoecimento. Elevados são os números de licenças para tratamento de saúde em tempos em que as opiniões políticas e a liberdade de cátedra são cerceadas em nome de ideais estranhos ao espirito democrático e à pluralidade sob as quais nasceram as universidades no mundo inteiro.
Em que pese as ameaças do governo federal sobre os salários, o corte de verbas para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal (Capes), entre outras ações bárbaras e toscas do Sr. Ministro da Educação, enfrentamos hoje um ambiente de burocratização exacerbada com rígido controle sobre os processos cotidianos. Perde-se mais tempo preenchendo formulários e sistemas eletrônicos do que realizando pesquisas ou elaborando aulas. Há um engessamento geral dos processos que parecem imobilizar o próprio dinamismo inerente ao trabalho científico de forma que vamos lentamente perdendo espaços, abdicando de tarefas em nome do arcaico burocratismo de estruturas hierárquicas pesadas que pouco ou nada tem a ver com as universidades brasileiras.
Os tempos exigem unidade de classe e espírito combativo dos/as trabalhadores/as e estudantes das universidades. No entanto, o que se observa na UFMS é um completo isolamento da reitoria e de seu grupo político que reiteradamente tem se alijado dos debates sobre o caráter político dos/as trabalhadores/as da ciência e tecnologia e tem preferido apresentarem-se como gestores/administradores de corporações nas quais sua identidade de docentes/pesquisadores/as é ocultada. A ação judicial que resultou na expulsão da organização sindical dos/as docentes de Aquidauana de sua sede própria e a tentativa de despejo dos/as estudantes do prédio do DCE explanam a conduta do grupo político que se encastelou na reitoria de nossa universidade.
Essas ações políticas colaboram para o lento desmantelamento do ensino superior público de Mato Grosso do Sul. Já temos notícias de
campi
que já não realizam atividades pelo período matutino a título de economia com gastos de energia elétrica e água. Recentemente fomos informados que as unidades da UFMS devem priorizar a arrecadação de valores com aluguel de seus espaços ao invés de reforçar as ações comunitárias que implicam usos gratuitos de seus ambientes – anfiteatros e quadras – pelas populações alvos de projetos diversos.
No atual contexto de crise de legitimidade do discurso acadêmico e científico pelo Governo Bolsonaro a Universidade se apresenta como bastião da democracia, da defesa da democracia e do debate político sólido de base filosófica. Não podemos ceder a sanha do mercado por formação ao estilo
fast food
para atender demandas que afrontam a própria condição humana com o crescente desemprego e baixa remuneração.
Infelizmente, as saídas ou paliativos pensados pela gestão atual da UFMS encaminham-nos cada vez mais ao centro da lógica do livre mercado. Acena-se para os (as) trabalhadores (as) e estudantes com o canto de sereia do empreendedorismo, palavra e conceito capciosos que parecem abarcar e ocultar toda a pobreza vivida pelo nosso público acadêmico através de rótulos cheios de eufemismos, no qual o empreendedor (a) não é mais o(a) jovem pobre, mas sobretudo, aquele que enfrenta a pobreza sozinho da maneira que lhe coube, fato que reforça a meritocracia vivida desde as origens da UFMS na década de 1960.
A intromissão do setor privado e de sua lógica na UFMS é cada vez mais patente, encaminhamo-nos tal qual outras universidades para a criação de patentes para as empresas multinacionais e o recebimento de doação de bens por filantropos individuais e empresas nos padrões norte-americanos. A concepção de gestão educacional em um modelo empresarial está cada vez mais presente nas ações cotidianas da Universidade, em que pese as várias décadas de estudos em Educação de nossos Programas de Mestrado e Doutorado, que apontam os equívocos históricos dessas concepções, atualmente influentes.
Nesse ritmo o papel constitucional do Estado como mantenedor/provedor da Educação superior acaba naturalizando a precarização e valorizando a Educação à distância mantida pelas empresas privadas que se multiplicam de forma preocupante às custas dos sonhos de realização profissional de jovens trabalhadores (as). É licito questionar qual o papel das instituições de ensino superior nesse contexto de esmaecimento do papel do Estado no qual os direitos básicos do cidadão e da cidadã também são desconsiderados e ou relativizados.
A não participação das entidades sindicais ligadas à Educação no planejamento e nos eventos oficiais da SBPC indica o atual divórcio de ideias entre a reitoria e a ADUFMS. Mais do que um evento de propaganda da administração de determinadas pessoas que dirigem hoje a UFMS a SBPC deveria congregar pesquisadores(as) e estudantes em torno da defesa dos ideais democráticos e da liberdade de expressão, transformando-se em um ato político de resistência da ciência brasileira, contra os desmandos de um governo que ameaça a sobrevivência do que há de mais vigoroso em uma sociedade: a sua juventude composta de homens e mulheres pobres, negros, negras, periféricos, desempregados e desempregadas que almejam uma Universidade pujante e para todos e todas.
Viva o povo brasileiro!
Viva a Universidade pública, gratuita, laica e de qualidade para todas e todos!