Para além da estrutura ruralista, a história de Mato Grosso do Sul tem capítulos escritos pelos movimentos sociais, mesmo que estes tenham sido postos nas entrelinhas da história convencional. Na última quinta-feira, 19 de outubro, o debate “Movimentos sociais e sociedade civil” em MS trouxe a perspectiva dessa história a partir de organizações de mulheres, sindicatos e movimento estudantil, principalmente nas décadas de 1980 e de 1990, que conquistaram direitos no Estado que ainda podem ser usufruídos. O evento faz parte da programação Mato Grosso do Sul 40 anos. Foi organizado pelo Curso de Ciências Sociais da UFMS. Aconteceu no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, com a presença da presidenta da
ADUFMS-Sindicato
Mariuza Aparecida Camillo Guimarães e da professora Ana Maria Gomes, idealizadora do
Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (NEG-UFMS)
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A professora Ana Maria Gomes é pioneira em pesquisas na área dos estudos de gênero em Mato Grosso do Sul, com importante trajetória no movimento de mulheres. Para ela, os movimentos sociais são os mais importantes comportamentos coletivos, porque expressam o que está por vir por meio das críticas, da busca e das novas alternativas para o tipo de sociedade em construção. Em 1998 ela criou o NEG, núcleo que permanece em atividade. O NEG fomenta ações e pesquisas voltadas principalmente às mulheres. Ele atua também na disseminação de ações a favor dos direitos da mulher, com foco nas mulheres que estão inseridas nas camadas sociais mais vulneráveis.
Em sua fala na mesa de discussão, a professora Ana Maria relembrou conquistas importantes para as mulheres, como o Sistema de Informação Mulher (SIM), grupo que era formado em sua maioria por pessoas de classe média, mas que compunham uma rede de assessoria e pesquisa para quem tinha menos acesso a informações, e o Movimento Popular de Mulheres. “O SIM funcionava como articulador e impulsionador do movimento de mulheres no MS. O Movimento Popular de Mulheres foi criado por volta de 1984 e seria uma contrapartida dos movimentos das mulheres de periferia. Ele começa em Três Lagoas, com iniciativa religiosa e com atividades que, acreditava-se, serem típicos interesses das mulheres, como crochê, tricô etc. A partir daí, elas passaram a discutir os problemas delas enquanto mulheres e depois para uma discussão mais ampla. O movimento se desvinculou da Igreja e passa a ter autonomia enquanto grupo. Depois, se espalha a nível estadual e nesse período nós tivemos aqui no Estado mais ou menos 76 ou 78 grupos de mulheres organizados. Por volta de 1990, começa uma crise no movimento popular das mulheres porque muitas tiveram que ir para o mercado de trabalho, ou [por] problemas de financiamento, que começam a diminuir porque o Brasil abre a economia para financiamento em outros países”.
A professora Mariuza Aparecida Camillo Guimarães direcionou sua fala às lutas estudantis e sindicais. Entre elas, a manifestação de estudantes secundaristas para reivindicar o passe livre em 1982. Naquela ocasião, foi garantida a metade do subsídio, uma vitória inicial que antecedeu a gratuidade da passagem, garantida até hoje aos/às estudantes do Estado, uma vitória para o segmento da educação. Porém, para a professora, há uma resistência muito grande da direita brasileira em reconhecer trabalhadores/as da educação.”O movimento dos/as professores/as na educação básica do MS foi um dos primeiros dos/as trabalhadores, de uma forma muito incipiente. As/os professoras/es eram contratadas/os pelos governos e a cada vez que mudava o governo eram todos demitidos. Não havia uma exigência de formação das/os profissionais. Parece que naquele tempo, que tínhamos que fazer embates a todo tempo, tínhamos uma capacidade maior de lutar e de se mobilizar. O processo era muito complexo. As/os estudantes estavam organizadas/os. As associações de pais e mestres, apesar de criadas pelos militares, eram participativas, mas depois essa relação foi se perdendo. A organização dos sindicatos da educação básica foi crescendo. A organização oficial dos professores nasce com a criação da Feprosul [Federação dos Professores de Mato Grosso do Sul, atual Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems)], com o objetivo de criação de sindicatos em todos os lugares do Estado. Trazia uma importante forma de organização que englobava professoras/es e técnicas/os. Mas o governo não reconhece isso. Não há planos de carreira que coloquem as duas categorias no mesmo patamar”.
Assessoria de Imprensa da ADUFMS/Sindicato