Estudantes e docentes de Jornalismo se manifestam contra censura da UFMS

Docentes e acadêmicos de Jornalismo da UFMS continuam a se manifestar contra a política de sucateamento conduzida pela gestão da universidade. Ocorre, nesta quarta-feira (31 de agosto), um ato em frente à reitoria, a partir das 16h, organizado pelo Cajor (Centro Acadêmico de Jornalismo) e pela UNE (União Nacional dos Estudantes), contra a ação de censura à atividade jornalística dos estudantes.

Durante as férias de julho, os sites relacionados ao curso – hospedados no domínio da UFMS – foram retirados do ar, sob justificativa de “evitar publicidade de cunho político”. De acordo com o professor Dr. Gerson Martins, coordenador do ciberjornal laboratório Primeira Notícia, a suspensão não teve aviso prévio. “Foi enviada uma instrução normativa de suspensão das páginas dos órgãos federais que tivessem qualquer tipo de publicação publicitária do governo federal atual. Isso é normal, todo ano em que há eleição presidencial acontece isso e nós nunca fomos afetados, porque é muito claro: a instrução é sobre publicidade”.

Martins explica que não houve preocupação quanto à normativa, já que o exercício do jornalismo durante períodos eleitorais é livre. “Pensei que não fosse nos atingir, mas para nossa surpresa, no final de junho, verificamos que as páginas tinham sido colocadas em posição offline”, afirma. “Não temos qualquer dúvida de que se trata de uma situação completamente ilegal que vai contra os princípios da liberdade de imprensa e o que garante, na Constituição Federal, o Artigo 220. E nossa perspectiva é de que a universidade achou uma forma de censurar nossos cibermeios”.

O Artigo 220, citado pelo professor, afirma que “manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição”. A legislação ressalta, no inciso primeiro, a defesa da liberdade de imprensa. “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”.

O Cajor publicou uma nota, nas redes sociais, em que repudia a medida da gestão da instituição, destacando que a ação “se caracteriza em uma medida inconstitucional, pois fere os direitos à liberdade de imprensa e ao acesso à informação”. A EJ Brava, empresa-júnior do curso, também publicou seu posicionamento e ressaltou que há um desmonte “em disciplinas práticas como radiojornalismo e telejornalismo, que estão sem técnicos para o auxílio das produções”. O Sindjor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul) também emitiu uma nota, na qual afirma que “por trás dessa decisão arbitrária que se apresenta como ‘mera interpretação da lei’, está a tentativa de censura ao exercício jornalístico, em desrespeito a preceitos constitucionais do Estado Democrático de Direito”.

A reivindicação dos estudantes e professores tem atingido visibilidade nas redes sociais. No Twitter, a hashtag #CensuraNaUFMS conta com dezenas de menções. No perfil “Segredos UFMS” no Instagram, no momento de publicação da matéria, há mais de 790 curtidas na postagem que afirma: “No curso de jornalismo estamos passando por uma situação gravíssima de desmonte e censura”. Na publicação pelo perfil de mesmo nome no Facebook, há mais de 200 curtidas.

A presidente do Cajor, Ana Laura Menegat de Azevedo, destaca o envolvimento dos estudantes na mobilização contra a medida. “A gente colou cartazes na universidade, não é apenas uma ação do C.A., as pessoas estão engajadas independentemente de fazerem parte do Centro Acadêmico”. Para Ana, a suspensão das páginas tem caráter político e proposital. “É censura, é desmonte e é uma medida 100% planejada. Não é sem querer”.

Além dos cartazes e do ato dos acadêmicos, a mobilização ocorre também na esfera jurídica e nas instâncias da universidade, de acordo com Gerson Martins. “A mobilização que tiramos foi de nos manifestarmos nas mídias, nas redes sociais e buscar um especialista que nos auxilie, conforme proposta do professor Mário Fernandes, de ir até o Ministério Público Federal e entrar com uma liminar para que as páginas voltem a estar online”, pontua o professor. “Além disso, vamos levar à reunião do Conselho Universitário, que ocorre no dia 1º de setembro de forma remota”.

Ana Laura elenca outras políticas da reitoria que contribuem para o desmonte do curso. “Estamos privados do nosso direito a uma educação pública e gratuita de qualidade, não porque não há profissionais qualificados, o corpo docente é ótimo, mas não consegue fazer seu trabalho porque a universidade não dá condições”, afirma a acadêmica. “Enquanto estamos sofrendo esse desmonte, a reitoria está construindo um posto de estacionamento para veículos elétricos”.

No momento da publicação da reportagem, o site do curso de Jornalismo da UFMS está no ar. O portal Primeira Notícia está disponível, porém com aviso de segurança e falhas de carregamento, que também ocorrem no site do Laboratório de Fotojornalismo. Ana Laura vê a medida como tentativa de amenizar a mobilização que tem ocorrido. “O sistema, por onde fazemos a publicação continua fora. Em termos de ensino, continuamos sem a plataforma. Os professores se reuniram com a assessoria e os sites voltaram cerca de meia hora antes da reunião, é algo calculado. Não vamos baixar a guarda”.

Ausência de técnicos

Outro problema enfrentado pelo curso é a ausência de técnicos para auxiliarem as disciplinas de Laboratório de Radiojornalismo e Laboratório de Telejornalismo. No caso da matéria televisiva, o boicote vem acontecendo desde o semestre passado, em que a professora responsável pela disciplina só tinha um técnico a disposição para editar as produções e não era suficiente para atender a quantidade de demanda. Neste segundo semestre, não há mais técnicos de edição e a disciplina conta com apenas um cinegrafista disponível para acompanhar as gravações das três turmas em vigência.

Em Radiojornalismo, um projeto que demorou oito anos para conseguir ser aprovado está impossibilitado de continuar por conta da ausência de técnicos. A Rádio Educativa da UFMS funciona divulgando conteúdos relacionados à pesquisa, ensino, extensão e inovação trabalhados no ambiente universitário. O curso de jornalismo participa da programação da rádio por meio da Rádio Corredor, projeto no qual alunos e alunas do curso conduzem um programa radiofônico que é transmitido no corredor central da UFMS.

Além disso, a programação radiofônica do curso se estende para o programa Plural, uma produção que conta com outros professores do curso expondo trabalhos de diversas áreas e temáticas nesse recurso. Esse programa está suspenso também pela falta de técnicos para auxiliar nas transmissões. Desde o semestre anterior existem programas parados sem publicação por conta desse empecilho.

Mudança de bloco

O terceiro problema está relacionado à infraestrutura, pois a coordenação da Faalc (Faculdade de Artes, Letras e Comunicação) foi transferida para um bloco próximo ao Lago do Amor, bem distante de onde as outras salas e coordenações estão. O problema é que o “bloco novo” não foi entregue nas melhores condições, estando sujo, empoeirado e com acesso precário à internet.

No momento o curso de jornalismo não irá se deslocar, pois o bloco não possui laboratórios prontos e a graduação depende destes espaços. Porém, o PPGCom (Programa de Pós-graduação em Comunicação) já foi transferido para o novo local.

 

Norberto Liberator, com informações da Assessoria – Cajor