O Integra UFMS deve debater Ciência e Inovação, mas faz abertura recheada de conceitos religiosos e indigna boa parte da comunidade acadêmica.
Hoje pela manhã a comunidade acadêmica da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) foi pega de surpresa na abertura do evento INTEGRA UFMS com a palestra intitulada “A viabilidade da evolução à luz da Química” feita pelo professor Marcos Eberlin defendendo o Criacionismo. A teoria é reconhecida dentro da comunidade acadêmica mundial como uma pseudociência por não possuir embasamento científico. A forma de abordagem do tema e o conteúdo da live que refutou teorias científicas e propagou questões relacionadas à fé e à religião causou alarde e espanto em professores e alunos que a consideraram inapropriada para o ambiente acadêmico.
O INTEGRA UFMS é o maior evento de Ciência, Tecnologia e Inovação do Mato Grosso do Sul. De acordo com o próprio site da instituição, tem como principal objetivo divulgar o resultado das atividades científicas ligadas aos diversos programas institucionais de pesquisa e extensão universitária.O espanto e preocupação de professores e alunos com o tema pseudocientífico logo na abertura do evento se justifica por não se tratar do que o evento e a própria universidade se propõe. “Cada um de nós tem a plena liberdade de professar livremente a sua fé, mas o lugar de expor essas questões que são pessoais e intransferíveis não é na abertura de um evento científico”, alerta o Coordenador do Programa de Pós Graduação em Química, Giuseppe Câmara da Silva. Ele explica que o professor Marcos Eberlin é um químico altamente respeitado no Brasil mas a escolha do tema para o fórum foi equivocado.
“Ali temos um fórum de discussão num evento científico que se propõe a discutir o design inteligente como uma teoria que se contrapõe à teoria da evolução. E é inadequado colocarmos em pé de igualdade essas duas formas de encarar o mundo. Os estudos de Darwin e de todos os pesquisadores que vieram depois dele têm uma série de evidências incontestáveis enquanto a outra visão está fora da discussão da academia pois não se sustenta em pressupostos científicos. Não há como colocar essas duas teorias na mesma balança”, explica o professor.
Na página oficial da UFMS no YouTube, onde a palestra foi veiculada ao vivo e continua salva até o momento desta publicação, alunas e alunos manifestaram sua indignação com o conteúdo: “-Que vergonha UFMS! Que vergonha!”, disse Diogo Provete. Anahi Escobar relatou que a palestra causou uma confusão teórica: “(…)Tentou misturar tudo e distorceu os dois (a religião e a ciência). Debate científico se faz de ciência com ciência, então sabe-se lá o que foi isso aqui. (um desserviço para a ciência)?”, questionou. “Que horror UFMS! Uma instituição tão prestigiada no estado do MS permitindo esse tipo de pensamento tão nocivo? (…)”, falou Sidney Ferreira. Enquanto Jéssica Carretone questionou a inclusão do tema no INTEGRA UFMS: “(…) No principal evento científico, vocês dão espaço à pseudociência? Cadê o método científico? Por favor, UFMS, vocês não têm vergonha?”.
Para o Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Química da UFMS, Giuseppe Câmara da Silva, as pseudociências costumam levar vantagens em relação às verdadeiras ciências, porque geralmente prometem respostas simples para problemas complexos. Para Giuseppe, o grande dano é que o grande público acaba absorvendo tudo como se fosse ciência e passa a acreditar naquilo, o que é extremamente perigoso: “Me preocupa um episódio como o de hoje, pois justamente nesse momento em que temos tantas fake news e pseudociências brotando pelo mundo, como por exemplo: a desconfiança das vacinas, a hidroxicloroquina como solução para o COVID-19 e o terraplanismo, nós nos depararmos com isso dentro dos muros da nossa própria instituição, estamos permitindo gerar mais dúvidas e desinformação.”
Segundo o professor, esse episódio não é apenas um desserviço para o grande público, mas principalmente para os alunos de graduação ou pós-graduação da Universidade que ainda são profissionais ou pesquisadores em formação. “É especialmente perigoso para o aluno que não tem o treinamento adequado para separar o que é teoria científica do que é uma simples opinião pessoal, ouvir algo assim em um evento oficial da UFMS”, adverte.
A ADUFMS (Organização Sindical dos Docentes da UFMS) solicitou oficialmente à UFMS um esclarecimento sobre a aprovação prévia do tema pelos Comitês Científico e de Ética da Universidade, mas não obteve resposta até a o momento desta publicação.
Assessoria de Comunicação – ADUFMS