Mais uma vez, a crise do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS) potencializada desde 2013, ano em que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) assumiu o controle do HU, foi denunciada. Durante palestra no III Seminário de Formação Sindical “O processo de privatização da saúde no Brasil: a questão do SUS e da Ebserh”, ocorrido na segunda-feira 29, no Auditório 2 do Complexo Multiúso da Cidade Universitária da UFMS em Campo Grande, a professora do Curso de Enfermagem da UFMS, Cleodete Candida Gomes, apontou os problemas enfrentados pela unidade. É uma das mais graves situações do hospital-escola, do qual depende boa parte da população do Estado e até de outras unidades da Federação. “A situação é drástica”, assegurou Cleodete.
O Pronto Atendimento Médico (PAM) do Hospital está com restrição de atendimento. Na entrada do PAM um aviso: “O pronto-socorro deste Hospital [HU] atende apenas pacientes encaminhados pelo Sistema de Regulação (Sisreg) do Município de Campo Grande. Os pacientes deverão portar o encaminhamento com senha de autorização para então passar pela classificação de risco e posterior atendimento.”
Às dificuldades operacionais por que passam o HU, soma-se uma indisposição da direção da Ebserh em conversar com as/os funcionárias/os do hospital. A professora Cleodete explicou que se proíbem reclamações por falta de material e remédios como dipirona para procedimentos básicos.
Não há conversa, mas há os ‘apertos’. Cleodete enfatiza que “é uma constante pressão”. Diante da ausência de diálogo a saída é usar a rede social para trocar informações sobre a grave situação do estabelecimento hospitalar que deveria ser modelo na formação de profissionais da saúde (enfermeiras/os e médicas/os, por exemplo) e na assistência à população, a saída é trocar informações e críticas via rede social, entre as/os trabalhadoras/os. Pelo WhatsApp, diálogo deste mês, queixa-se da falta de medicamento e material de procedimento. “Gente, como trabalhar sem seringa de 10 ml e 20 ml , sem soro fisiológico de 100 ml e 250 ml e sem glicosado de 100 e 250 ml? Como fazer uma dipirona EV, piscina EV??”, indaga profissional da saúde. “Vai ter q desperdiçar um monte do de 500 e usar. Que dó né”, lamenta outra pessoa. “Pra fazer uma dipirona??? Que absurdo!”, indigna-se outra pessoa.
A falta de uma administração que dê instrumental adequado à demanda acadêmica e de pacientes reflete o modelo funcional do HU. “Isso é gestão da ebserh [Ebserh]… Há mais de vinte anos trabalho nessa instituição. Nunca vi tal coisa, tamanha falta de gestão”, protesta um/a funcionário/a na rede. É uma “incompetência administrativa muito grande”, critica a professora Cleodete.
Reflexo disso é o ofício-circular encaminhado pela Gerência de Atenção à Saúde a autoridades municipais e estaduais, ao Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), centrais municipal e estadual de vaga, Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul e Conselho Regional de Medicina (CRM), informando que, “devido à falta de médicos plantonistas nos setores críticos (todas as terapias intensivas) do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, teremos à disposição […] somente 01 (um) médico plantonista na Área Vermelha do PAM [Pronto-Socorro], onde o mesmo será responsável por atender todas as intercorrências nesta instituição, impossibilitando o recebimento de novos pacientes.”
Mas quem conhece o HU duvida que esteja faltando médico. “Não tem médico suficiente porque eles batem o ponto e vão embora. Entra direção e sai direção e o corporativismo médico continua. Nunca mudou. Muitos são contratados pra 40 hs [quarenta horas] semanais e não cumprem nem 20. Sempre foi assim. Quem teria que fazer 20 hs (vinte horas) faz somente 12. Tem uns bem cara de pau. Bate ponto vira para trás e vai embora. Aí vc [você] vai bater sua saída digna, eles estão voltando pra bater a saída.”
Assessoria de Imprensa da ADUFMS-Sindicato