Muito longe de ser um reduto da esquerda marxista, a eleição para o Diretório Central das e dos Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (DCE-UFMS) reflete a diversidade ideológica na sociedade, manifestada no recente embate entre o presidente eleito Jair Bolsonaro e seu opositor Fernando Haddad.
Duas chapas disputam a direção da entidade na Cidade Universitária – Campo Grande e do interior do Estado: a Chapa 1 (Nossa Força, Nossa Voz) e a Chapa 2 (O Nosso DCE). A votação nos
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do interior acontece no próximo dia 12 de novembro e em Campo Grande no dia 13 de novembro, no horário das 8h às 21h30min.
A chapa O Nosso DCE representa o atual grupo que está no comando da entidade estudantil. Assume a bandeira do apartidarismo, mais alguns membros têm ligações com a juventude do PSDB e simpatizantes do movimentos Escola Sem Partido e Brasil Livre (MBL). A sua carta-programa fica restrita às reivindicações em âmbito administrativo. Não comenta sobre a conjuntura política pela qual atravessa a universidade pública. Coloca como principal conquista na gestão a emissão de fotocópias de material acadêmico grátis para estudantes da UFMS. Condena a intolerância, sem explicar que tipo.
Leia a carta-programa
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Já a Nossa Força, Nossa Voz tem a adesão de simpatizantes de partidos de esquerda e estudantes preocupados com a defesa da universidade pública gratuita. Congrega simpatizantes do PT, PSOL, PDT, UJS, PCdoB e independentes. Tem o compromisso central de ampliar a política estudantil e garantir as decisões coletivas no movimento estudantil. O grupo teve um atuação direta no Conselho Universitário (COUN) quando da discussão do Regimento Interno Estudantil que estabelecia uma série de medidas punitivas, restritivas às/aos estudantes e também a presença da comunidade externa dentro da UFMS. Com a participação de acadêmic@s, as alterações pró-regimento mais democrático apresentadas foram acatadas na íntegra pel@s conselheir@s. Estiveram à frente também da mobilização pela melhoria da qualidade das refeições oferecidas por empresa terceirizada no Restaurante Universitário (RU).
Leia mais sobre a Chapa 1.
Para aprofundar o papel do movimento estudantil na defesa da Universidade Pública, o Conselho de Centros Acadêmicos promoveu reunião na Concha Acústica para discutir questões como o corte do orçamento para as universidades públicas e as ameaças de privatização.
O estudante de Ciências Sociais Haricson Freitas relata que, de forma autônoma, @s estudantes insatisfeit@s com a postura da atual direção do DCE puxaram a Assembleia para discutir o cenário pós-eleições. Na pauta, questionamento sobre como vai ficar a universidade pública pós-período eleitoral e para discussão dos problemas próprios da UFMS.
Aponta-se a desmobilização por parte da atual direção do Diretório que não conversava com os centros acadêmicos, não puxava assembleias, não convocava o CEB (Conselho das Entidades de Base), não repassava à comunidade estudantil as decisões encaminhadas pela Reitoria. Não se discutiam esses itens.
Nesse período, Haricson lembra que rolou muito assédio e intolerância dentro da universidade, relatada por muitas estudantes.
Entre as deliberações tiradas na Assembleia Geral está a de se criar um comitê para coletar as denúncias de assédio, intolerância e racismo que acontecem nos
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e repassar os casos para a Comissão de Ética da UFMS. A ideia é de estabelecer um elo entre alun@s, professor@s e a Reitoria. Ou, se necessário, buscar órgãos fora da UFMS para denunciar e apurar casos que envolvam estudantes vítimas de assédio moral, estabelecer convênios e parcerias para combater abusos. Propôs, como exemplo, a oferta de cursos de autodefesa para as assediadas pelo curso de Educação Física. Outra comissão tem o objetivo de organizar palestras para esclarecer @s estudantes sobre os centros acadêmicos, o que é o DCE, as atléticas, quais os papéis e como usufruir desses espaços.
Na quarta-feira (7-11), o Centro Acadêmico de História organizou palestra com o ex-presidente do DCE-UFMS e candidato na última eleição para reitor, Marco Aurélio Stefanes. O docente do curso de Ciências da Computação fez a retrospectiva das lutas do DCE no início da década de 1990 e o papel desenvolvido pelo movimento estudantil em defesa da universidade pública. Também participou da palestra o ex-coordenador-geral da entidade, João Cirilo, hoje advogado e dirigente do Centro de Defesa da Cidadania dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã-I (CDDH).
Marco Aurélio lembrou que naquele período as universidades brasileiras passaram por grande estrangulamento orçamentário que resultou no congelamento de salários d@s docentes por mais de seis anos, greves, ameaças de privatização e mobilizações constantes em defesa do caráter público das instituições.
Essa situação foi semelhante ao cenário atual com o corte drástico de verbas promovido pela equipe do atual presidente, Michel Temer. Outra luta do período era a aprovação do novo Estatuto da UFMS, o que até o presente momento não aconteceu, passadas mais de duas décadas.
Assessoria de imprensa da ADUFMS-Sindicato