A Adufms lamenta profundamente a morte do professor Francisco Fausto Matto Grosso, aos 73 anos, nesta quarta-feira (1º de junho). Fausto foi presidente do sindicato entre os anos de 1972 e 1973, período em que a entidade resistia a um dos períodos mais sanguinários da ditadura militar, então comandada pelo general Emílio Garrastazu Médici.
Militante histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o engenheiro e professor liderou a reorganização do chamado “Partidão” durante a década de 1970, ainda na ilegalidade. Durante o período de transição democrática, foi vereador em Campo Grande, entre 1983 e 1988. Pela Fundação Astrojildo Pereira, da qual foi diretor, lançou o livro “Histórias que ninguém iria contar: história banal do PCB em Mato Grosso do Sul”, em 2021.
Matto Grosso foi ainda secretário do Ministério de Integração Nacional, durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deixando o cargo para assumir a pasta de Planejamento, Ciência e Tecnologia do então governador Zeca do PT. Mais tarde, durante a gestão de Dilma Rousseff, integrou a Comissão Nacional da Verdade, que se dedicou a investigar os crimes cometidos durante a ditadura.
O conhecimento acadêmico e o legado em defesa dos direitos humanos são lembrados por quem conheceu o professor. “Ele sabia muito. Quando inauguramos o Comitê em Campo Grande, ele contou que, enquanto vereador, tentou mudar o nome da Avenida Costa e Silva, entre outras que homenageavam militares da ditadura”, relata a ilustradora Marina Duarte, que trabalhou com Fausto no Comitê da Memória e Verdade em Mato Grosso do Sul. “Nós encontramos o documento com o projeto, já com o papel bem envelhecido, no DCE da UFMS”, conta Marina.
Diretor sindical do Sinasefe e militante do PCB, Leonardo Borges Reis lembra o legado histórico de Fausto para a esquerda sul-mato-grossense. “O Fausto Matto Grosso tem uma importância muito grande para nós, porque ele promove a conexão entre duas gerações. A primeira é do Euclides de Oliveira, que foi preso em 1935, do Alberto Neder, Acelino Granja, que vem do começo do século XX; e a segunda geração, por assim dizer, do Carmelino, do Fausto, do professor Amarilho Ferreira Júnior”.
Leonardo entrevistou Fausto na fase final da vida do ex-secretário e destaca a importância dele em várias conquistas sociais e democráticas. “Ele é apontado, em diversos arquivos dos serviços de inteligência da ditadura, como uma das principais lideranças no estado. E ele consolidou uma série de lutas. Uma delas é a luta pela anistia, depois pela abertura, na campanha Diretas Já”, pontua o diretor sindical. “Foi demitido da UFMS em 1973, então essa militância teve um custo. Ele disse, no depoimento, que não foi um custo tão alto para ele”.
Além da questão política, Leonardo relembra a generosidade de Fausto nas relações pessoais. “Era alguém muito bom no trato humano. Nós o entrevistamos no dia 8 de maio, foi Dia das Mães, um dia complicado. Mesmo com dor, com toda dificuldade, com muita debilidade, ele foi muito generoso em nos conceder essa entrevista. Eu acredito que seja uma das últimas que ele concedeu”.
Fausto estava internado e passou por oscilações em seu estado de saúde, desde que foi diagnosticado com quadro grave de anemia, em 2020. Naquela ocasião, adquiriu Covid-19 no hospital, mas conseguiu ser curado. Seu velório ocorre no cemitério Parque das Primaveras. A Adufms se solidariza com familiares e entes queridos, além de reforçar o legado de Fausto para a defesa de uma sociedade mais justa.