O Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – ADUFMS – repudia e expressa indignação acerca do card de campanha “UFMS + ética”, veiculado nas redes sociais da instituição com os seguintes dizeres: “Trabalho remoto não é férias ou folga! Mantenha-se disponível para a equipe nos horários ajustados e evite ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização da chefia imediata”. Acompanha tais dizeres uma imagem representando uma pessoa deitada em uma rede de descanso, com cenário de fundo sugerindo o horário das 9:00h, pelo relógio de parede, mensagens de e-mail não abertas e ligações não atendidas, pela representação de ícones na tela de um computador.
Endereçada aos trabalhadores e trabalhadoras da universidade, uma vez que versa sobre o trabalho remoto, a campanha é, no mínimo, ofensiva com professores/as e técnicos/as da UFMS e precisa imediatamente ser retirada. É imperioso reconhecer que no Ensino Remoto Emergencial e, consequentemente, no trabalho remoto realizado nesta condição, aumentou sobremaneira a demanda para os/as profissionais em horas de dedicação, incluindo replanejamento e aprendizagem de novas tecnologias, como também aumentaram os gastos com recursos próprios para sua realização em ambiente privado, e prejuízos da saúde face à improvisação de novos esquemas ergométricos para dar conta do maior volume de trabalho. A representação de que estamos deitados/as numa rede descansando é um assédio moral. Pesquisadores/as de todo o país têm apontado os efeitos do trabalho remoto para profissionais da educação, demonstrando a intensificação da jornada de trabalho e de estresse, na conjuntura da pandemia, em variadas localidades e níveis de ensino (A esse respeito, sugerimos o levantamento do ANDES https://www.andes.org.br/diretorios/files/renata/junho/ne-pesquisa-professor-final-1.pdf e as pesquisas realizadas no âmbito do Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente/GESTRADO, da UFMG, compilados pela busca simples em https://gestrado.net.br/?s=pandemia). Também é necessário reconhecer que as fronteiras entre o mundo privado e os espaços de trabalho se abriram e pesaram sobre os e as trabalhadoras, que recebem mensagens e solicitações pelas TICs em horários diversos e para além daqueles “ajustados” nos múltiplos sistemas que preenchemos.
Mesmo as pesquisas que apontam o ensino superior como cenário deste aumento de trabalho, ainda é importante lembrar que, em nosso caso, a sobrecarga pode ter sido maior que no conjunto geral, pois docentes e técnicos da UFMS foram submetidos ao trabalho remoto desde o início da pandemia, enquanto a imensa maioria das universidades públicas suspenderam seus calendários nos primeiros meses. Como interlocutores sindicais, recebemos cotidianamente muitos relatos de professores e professoras sobrecarregados em meio a um contexto de doença e luto, reunindo em casa as obrigações profissionais e domésticas e tentando sobreviver à maior catástrofe sanitária do século. Em paralelo, temos enfrentado ataques advindos de um governo que declara o/a funcionário/a público como inimigo/a, como “parasita”.
É inconcebível que a própria instituição reproduza endereçamentos pejorativos de seus e suas trabalhadoras enquanto paralelamente afirma constar em variados rankings de qualidade. É igualmente inadmissível que a instituição permita a circulação de material institucional onde as imagens de professores e técnicos repitam os piores ataques a que nossa categoria já enfrentou. Ao contrário, trabalhadores e trabalhadoras da educação na UFMS nunca pararam, e devem ser defendidos e defendidas pela universidade pública a que se dedicam, e não desrespeitados/as de forma tão aviltante. Exigimos que o card da campanha seja excluído e que recebamos desculpas públicas que possam, minimamente, diminuir a ofensa que ele provoca.
Defendemos o compromisso com a Instituição e casos isolados e pontuais devem ser tratados como tal, sendo obrigação da gestão promover as medidas necessárias. Mas é inadmissível a generalização que a postagem incute ao conjunto de servidores. Exigimos respeito!
ADUFMS/Seção Sindical do ANDES SN