Acadêmicos relataram e criticaram no Conselho Universitário (Coun) a arbitrariedade cometida por vigia terceirizado e supervisoria de segurança contra estudantes que realizavam um lanche coletivo na Unidade 6 da Cidade Universitária Campo Grande da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O procedimento inadequado, sem diálogo com a discência, ocorreu na manhã de quarta-feira 27 de março, mesmo dia da 139ª Reunião Ordinária do Coun, a primeira de 2019, realizada à tarde.
Durante o expediente do Conselho, o representante do Diretório Central das e dos Estudantes (
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), Luis Júnior, propôs formação de comissão para apurar e discutir o comportamento autoritário de integrantes da Rotai, empresa terceirizada que presta serviço de segurança na UFMS. Júnior reforçou que o
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é solidário com @s estudantes atingid@s pelas práticas violentas. O conselheiro acrescentou que e o procedimento adotado pelo serviço de ronda seguia “determinações da Universidade”.
Na condição de presidente do Coun, reitor Marcelo Augusto Santos Turine, contra-argumentou com alegação de ordem legalista. “Pra expediente eu tenho a obrigatoriedade de só poder colocar em pauta quando tem um processo em aberto na Universidade”. Continuou o reitor: “O Conselho pode…, já está sabendo disso, tentar de forma urgente conectar…, tramitar isso [no]
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junto com a Universidade.”
Objeto da represália do serviço de segurança terceirizado, o lanche coletivo foi uma saída encontrada pel@s alun@sda UFMS-Campo Grande para amenizar o problema da falta de estabelecimento que comercialize produtos para a alimentação rápida no curto intervalo das aulas. “Há mais de dois anos estamos sem cantina no bloco 6 e, devido a novas reformas na UFMS, os quiosques que tínhamos ficaram mais afastados (fora do corredor). Pra não perdermos nossos intervalos de 10-15 minutos, nos deslocando e pegando fila, alguns acadêmicos dos cursos que têm aula na unidade 6 resolveram organizar lanches coletivos pro pessoal poder comer ali. Eu de Ciências Sociais e mais uns colegas, de manhã e à tarde. O pessoal da Psicologia e da Biologia também. À noite o pessoal da Filosofia e da História”, argumentou o acadêmico Haricson Luiz Bueno Freitas, que na reunião do Coun descreveu como foi o procedimento de repressão às/aos discentes.
Acampanhado de outr@s estudantes, Haricson Luiz Freitas “estava com salgados lá no bloco 6. Eis que chega um segurança terceirizado da Rondai e me aborda falando que não podia vender e que precisava de licitação. Eu disse que conhecia a regra. Todavia essa não era a situação (de venda/comércio). E pedi pra ele chamar o supervisor dele que eu explicava a situação”. A contribuição dada pel@s alun@s para obter os produtos não tem finalidade de lucro. “Compramos salgados de R$ 1 e levamos café. As pessoas se servem e deixam ajuda para mantermos a inciativa. O dinheiro é socializado pra continuar comprando mais salgados e levar pros estudantes.”
Então o segurança foi chamar o supervisor. “Passam alguns minutos e chega já o camburão da segurança [com] um segurança e o técnico administrativo da segurança (o supervisor)”. Pediu-se que Haricson Luiz se identificasse. Essa foi a única conversa. O restante foi ato truculento por parte da segurança. Um dos integrantes do serviço de segurança “disse que teria que apreender a tupperware com os salgados. Eram sete salgados, que acabaram sendo pisoteados e estragados no meio da confusão) e uma garrafa de café. Nesse momento eles negaram diálogo e tentaram pegar as coisas. Eu relutei e pedi pra ver qual era a norma que dava amparo para eles tomarem as coisas (caso contrário seria furto)”.
Mas não houve apresentação de nada que amparasse a atitude. “Alguns estudantes passaram a intervir a meu favor. Nisso um terceirizado ameaçou pegar a arma que tinha na cintura pra intimidar. Outro empurrava colegas meus enquanto as ofensas verbais aconteciam”, explica Haricson Luiz. Antes de ser exposto ao Coun, o caso foi comunicado ao Conselho Diretor.
A presidenta da
ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional
e conselheira do Coun, professora Mariuza Aparecida Camillo Guimarães, lembrou que “não é a primeira vez que nós temos problemas em relação à abordagem da segurança para com os estudantes. Os terceirizados não têm uma capacitação para abordagem de estudantes.”
Segundo a docente, há vigias que admitem falta de treinamento específico para atuar na UFMS. “Eu já fiz essa pergunta a alguns deles. Eles fazem uma formação disponibilizada para todos os seguranças.” Ou seja, uma capacitação geral, sem trabalhar com especificidades de cada local onde atuam. A sindicalista se queixou da forma pela qual a supervisão da segurança, cuja responsabilidade é da universidade, agiu, com imposição e sem diálogo.
A sindicalista e conselheira Mariuza Aparecida sugeriu que haja um preparo que considere as singularidades da comunidade universitária. “Gostaria de propor que a universidade pensasse numa formação para esses seguranças para que eles tivessem uma qualificação para abordagem a estudantes, a professores e técnicos dentro da universidade.” O pró-reitor de Administração, Augusto Malheiros, concordou com a proposta da docente. “A questão da abordagem do segurança, sim! A gente pode readequar, a gente pode preparar, a gente pode capacitar, a gente pode readequar…”
A diretora da Faculdade de Ciências Humanas (FACH, unidade que abrange cursos frequentados por estudantes atingid@s pelo ato de violência) e conselheira do Coun, Vivina Dias Sol Queiroz, se posicionou sobre o fato durante a reunião do colegiado. “Foi um episódio infeliz. Um episódio que não deveria ter ocorrido. Infelizmente aconteceu, e as providências estão sendo tomadas.” De acordo com Vivina Sol, as imagens captadas por câmeras de segurança da Unidade 6 serão analisadas para verificar “objetivamente o que houve”. A dirigente da FACH concorda com a professora Mariuza Aparecidade sobre a necessidade de formação específica dos integrantes da segurança.
Assessoria de Imprensa da ADUFMS Seção Sindical ANDES Sindicato Nacional