A greve na UFMS completa dois meses

18 ago, 2015

Professores recebem homenagem em celebração ao centenário de Paulo Freire

Ângelo Marcos Vieira de Arruda*
Professor Ângelo Marcos Vieira de Arruda

(blusa preta) – Foto: Arnor Ribeiro/ADUFMS-Sindicato

Caros leitores e leitoras, quando escrevi esse artigo, dia 15 de agosto, completavam-se dois meses que professores, servidores e alunos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul entraram em greve. Motivos da greve? Inúmeros, especialmente mais e melhores condições de trabalho, que não passam apenas pelos salários e bolsas.

A educação superior no nosso país é um caso que merece ser estudado a fundo, pois não se compreende como uma nação que quer ser uma potência mundial deixa cair a peteca quando o tema da educação entra em cena. Em todos os níveis, professores e alunos, das redes municipal, estadual ou federal, sofrem com a falta de compromisso dos governantes em adotar um discurso e uma prática que sejam iguais.

Pátria Educadora, Brasil um país de todos e Educação em primeiro lugar são alguns dos

slogans

que vimos nas últimas décadas. Já tivemos um presidente/professor – Fernando Henrique Cardoso, o FHC – que, quando dirigiu a nação brasileira, deixou os professores federais com ZERO % de reajuste em oito anos de mandato, sem concurso para novos professores e nenhuma ampliação da infraestrutura; já tivemos presidente que colocou a cavalaria dentro da universidade para acabar com greve ou com manifestação; já tivemos dirigente de universidade que era militar e colocava ordem unida na tropa… de professores. Enfim, já tivemos de tudo. Até um presidente que, sem instrução superior, o Lula, criou as melhores condições para que a educação universitária fosse melhor e mais valorizada.

Como exemplo concreto, sou professor da UFMS graças às novas vagas – mais de vinte mil – criadas pelo MEC no governo Lula. Passei no concurso no ano de 2003 e assumi em 2004. Eu e quase a metade dos professores da UFMS e de outras universidades. Mas durante o governo Dilma Rousseff, com outro professor superior no MEC, o

Aloizio

Mercadante, o clima não foi o mesmo. Perdemos, ao invés de ganhar. E isso se espalhou e dominou o tempo de hoje. Estamos em greve para sermos ouvidos pelo governo federal que nossos vencimentos são ruins quando comparados com todas as carreiras superiores federais; que a nossa carreira docente está desestruturada demais, dificultando a vida futura; que as bolsas de pesquisa não são compatíveis com o desenvolvimento da ciência que queremos; que a vida na universidade, correndo para dar aulas, fazer pesquisas e extensão, orientar alunos em TCCs, preparar discussões e tarefas, produzir para publicar – UFA, quanta coisa! – tem nos deixado doente. De verdade. O número de docentes que adoecem por força dessa correria provocada pela carreira docente é imenso.

Caro leitor e leitora. Nós, professores universitários, temos de correr contra o tempo para cuidar do tripé da Universidade: pesquisa, extensão e ensino, durante quarenta anos, com dedicação exclusiva a ela. Em tempo recorde, pois, a cada 12 meses, somos avaliados, para pontuar e com esses pontos subir um ponto na carreira e receber uma adicional de, às vezes, 150 reais nos vencimentos. Agora vamos falar a verdade: qual carreira federal tem de fazer isso?

Pois bem! Eu lhes digo! Os vencimentos de um professor com Doutorado e Mestrado – que teve de estudar mais sete a oito anos após a graduação, escrever teses e artigos e ficar sem dormir um bom tempo – não passa de 10 mil reais brutos que com os descontos chegam a 7,5 mil reais, ou seja, menos de nove salários mínimos. O maior salário do país está indo para 39 mil reais, vencimentos de um ministro do Supremo Federal. Deputados, senadores, juízes, promotores e desembargadores terão seus salários reajustados, sem nenhuma greve ou discussão maior, com base nesse gigante salário do STF.

A nós professores, que somos responsáveis pela educação de uma geração de adultos, que alguns são seus filhos, cabe dizer: não estamos satisfeitos com o que ganhamos, precisamos de melhores condições de trabalho e acima de tudo precisamos ser reconhecidos pela sociedade, pois, dois meses depois de começar a greve, eu não vi ninguém dar apoio às nossas causas. Talvez esteja aí o nosso maior problema: reconhecimento e necessidade.



* Arquiteto e urbanista, professor e coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS