11 abr, 2023
Por Mariuza Guimarães*
Não costumo chorar. Sou uma “durona”, mas tenho chorado lágrimas que vem direto do coração. Lágrimas de sangue. Peço desculpas pela licença poética ao iniciar este texto. Ele não é um poema e também não pretende ser uma resenha.
Entretanto, quero partir de uma leitura feita recentemente, em que um suposto historiador inglês, ou como eles o chamam, um autor, David Irving, é duramente criticado por uma historiadora, Déborah Lipstadt, docente e pesquisadora de uma universidade americana, em uma obra denominada Denying the Holocaust, de 1993, onde o denomina de “um dos mais perigosos porta vozes do negacionismo do holocausto”.
Irving abre contra ela um processo por calúnia e difamação, criando um conflito que durará mais de 5 anos. Lipstadt precisará provar que o que Irving escreve tem caráter, antissemita, racista, preconceituoso e que pretende absolver Hitler. Não entrarei em detalhes sobre o livro, mas algumas palavras nele usadas me chamou a atenção: negacionismo; verdade; justiça; liberdade de expressão; omissão; opressão; censura; e; intolerância, dentre outras.
Tais palavras me remeteram para tempos recentes, quando os discursos usaram e abusaram de tais palavras para indicar os acontecimentos nos últimos 4 a 6 anos. A negação de fatos já comprovados pelas pesquisas pode indicar uma perda de perspectiva, seja para a sua visibilização ou para a sua normalização.
O que vimos no Brasil no último período foi a normalização da violência, do sofrimento e da morte. Uma inversão dos padrões comumente usados. A vítima transformada em sua própria algoz. A vítima é culpada pela violência perpetrada contra si mesma. As pessoas passam a acreditar na sua própria culpa. Assim se constroem as culturas e as subjetivações.
As subjetivações como resultado da normalização legitimam verdades e abrem possibilidades para uma suposta liberdade, que se transforma em “liberdade de expressão”, consolidando as verdades provisórias de grupos que ocupam espaços de poder e que são, por conseguinte, autoridades que tem ascensão sobre outros grupos. Criou-se mitos sobre figuras, ações e práticas políticas.
A normalização de crianças portando armas em palanques, caçadas contra animais sem nenhum controle, chacota de pessoas morrendo sem ar, desprezo de autoridades por fatos graves sobre a vida de pessoas sobre as quais tem responsabilidade. todas estas atitudes geram mais violência, mais desprezo pela vida.
Enfim, escrevi tudo isto para dizer que temos visto e vivido casos mais intensos de discriminação e preconceito, aumentando a violência contra mulheres, crianças, comunidade LGBTQIAP+, negros e negras, indígenas e outros que não compõem o padrão exigido pela higienização das raças.
Por último, além de toda a violência, vimos nas redes sociais, no grupo @ufms_segredos, o desenho de uma suástica na parede de um de nossos institutos, na sede de Campo Grande da UFMS. O que me incomodou não foi a denúncia dos próprios alunos nas mídias sociais, eu os parabenizo pela coragem, mas foi o absoluto silêncio da gestão sobre isto. Nenhuma palavra, nenhuma satisfação. Naturalização…Normalização????
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
(Martin Luther King)
*Mariuza Guimarães é professora, mãe, mulher negra, militante de muitas causas.