02 abr, 2020
Por Antonio Rodrigues Belon
Nos tempos recentes
A unificação das seções sindicais do ANDES-SN na UFMS – a ADLESTE e a ADUFMS-Sindicato – caracteriza-se em dimensões conjunturais e estruturais. Isto decorre da análise da história do sindicalismo no âmbito da mais antiga e tradicional universidade pública do Estado. O estabelecimento desta unidade é fundamental para a comunidade acadêmica, o seu entorno e os seus entrelaçamentos humanos, sociais, históricos.
O processo de unificação deu-se em consequência do retorno da ADUFMS ao ANDES-SINDICATO NACIONAL, efetivado no início de 2019. O Sindicato é o ANDES-SN, vale lembrar.
Isto traz, de imediato, o fio da CSP (Central Sindical e Popular) – CONLUTAS, indo sempre do mais específico ao mais geral nos combates classistas. E a combatividade foi a característica identificadora da ADLESTE enquanto presença histórica do ANDES-SN na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
A ADLESTE, em assembleia geral a 26 de novembro de 2019, na Unidade II da UFMS, campus de Três Lagoas, aprovou a unificação. As duas seções sindicais passam a configurar unitariamente o ANDES-SN, na universidade.
Nos tempos da ADLESTE
Os tempos da ADLESTE foram sempre tempos de duros combates. No combustível da independência, da autonomia, do classismo, alimentaram-se as lutas e as mobilizações do período. A ADLESTE escreveu a sua história em letras de fogo enquanto outros se perdiam em afagos estranhos às questões de classe.
A unificação da Seção Sindical dos Docentes da UFMS – região leste sul-mato-grossense – ADLESTE – à ADUFMS estabelece uma totalização histórica, social, humana, densa em possibilidades de um horizonte em renovação, de um tempo de efetivas lutas no setor das universidades federais, pondo em perspectiva a classe trabalhadora.
Recuperar as memórias do surgimento da ADLESTE em 2007, das discussões entre docentes dos campi de Três Lagoas, Nova Andradina e Paranaíba, põe em eixo de compreensão a experiência sindical histórica vivida. A atuação da ADLESTE marcou o espírito de um tempo, manteve acesa uma chama.
No cenário nacional de meados da primeira década do milênio, a ADUFMS distanciava-se dos debates sobre projeto de Universidade encampados pelo ANDES-SN. Tomava outras direções.
No Mato Grosso do Sul tudo se complicava. O distanciamento das lutas sindicais e classistas e a adoção de outras pautas levavam as diretorias da ADUFMS para um campo espinhoso de contendas internas da UFMS, especialmente nos contextos de eleições para a reitoria. A ADUFMS rompeu com o ANDES-SN. Parecia, na época, mais interessada na defesa das políticas dos governos de plantão.
Por um momento tudo parecia perdido. A ADUFMS chegou a compor em 2011 – ao lado de outras seções sindicais – um grupo de oposição ao ANDES-SN. A sigla PROIFES sintetiza este equívoco, sindicalmente sem grandezas, de posturas rastejantes. A defesa da Universidade Pública pedia e pede outros caminhos.
Um sindicato não é trampolim nem correia de transmissão da administração da universidade. A expressão sindical da vida docente exige uma forma viva, dinâmica, de combate classista, para além da pauta capitalista e seus governos de vários matizes.
Sindicalmente a combatividade se configura na participação em encontros de setores, GTs, Congressos, Conselhos de Entidades e nas mobilizações gerais, na esfera do sindicato nacional. É bom não esquecer o caráter da unificação de agora: unificam-se duas seções sindicais do ANDES-SN.
A ADLESTE participou de instâncias de direção do Sindicato Nacional, levando a representação da UFMS, no período. Encampou as lutas, as mobilizações nacionais e as greves. Sem tergiversações. A ADLESTE esteve na linha de frente das lutas. Não substituiu os combates por temas descabidos. No plano nacional e no plano local.
A ADLESTE lutou pela ampliação do quadro docente. Combateu pela melhoria das condições de trabalho. Colocou-se em movimento pela indissociabilidade de ensino-pesquisa-extensão e contra o produtivismo. Compareceu sistematicamente às reuniões com as reitorias e as direções de campus. Articulou-se com outras organizações sindicais no Estado e em Três Lagoas, principalmente, com o Movimento Unificado – experiência singular e modelo.
Nos tempos e nos espaços, os princípios
A manutenção intransigente da coerência e dos princípios básicos, de compromisso político, de independência e de autonomia, no correr do tempo trouxe perdas: por exemplo, no quadro de filiados. No entanto, qualitativamente o processo sempre foi de avanços. O desafio é fazer da unificação das seções sindicais do ANDES-SN, na ADUFMS, a culminância qualitativa do processo. Ganharíamos muito e amplamente.
Os ganhos na configuração de uma identidade combativa e consciente da importância da participação sindical, obtidos na ADLESTE, não cabem na fotografia. Na ADLESTE tudo foi vivido sem os vícios tradicionais da burocracia e do peleguismo.
A ADLESTE nasceu na oposição e contra a corrente majoritária, no entanto, procurou sempre os espaços de diálogos com docentes para além dos campi de sua abrangência. Portanto, isto é a continuidade da vivência de princípios. A vida vivida em princípios desdobra-se em consequências.
Tempos de retorno
Do diálogo, da abertura, veio em 2011, o tempo de construir uma alternativa de direção para o movimento docente na UFMS, superando a ruptura anterior. A construção conjunta do movimento de greve em 2012 foi marcante – sempre a luta, o combate. O Comando Estadual de Greve, daquele momento, abriu o caminho para a conquista da ADUFMS pela oposição. Tempos da ADUFMS tornar-se ADUFMS – refazer uma identidade despedaçada, reerguer uma tradição tão valorosa. A ADLESTE sempre defendeu o retorno da ADUFMS ao ANDES-SN. Agora era hora de saber fazer a hora; agora este era o sabor da hora.
O ANDES-SN é um fórum do movimento docente democrático por princípio e ação. Nele ocorrem as manifestações das diferenças e a unidade de ação em defesa da Universidade Pública, Gratuita, Laica, de Qualidade Socialmente Referenciada.
A unificação das seções sindicais do ANDES-SN eleva no Mato Grosso do Sul o combate para manter e fortalecer o Sindicato na defesa da Universidade Pública. O sindicato é uma ferramenta de luta. As ferramentas de combate refazem as suas configurações no tempo, na história das lutas – lutas de classes, em diferentes expressões – e encontram outras formas e denominações. A ADLESTE cumpriu seu papel, agora cabe manter a atuação sindical na ADUFMS.
Agora é hora de atuar no interior da ADUFMS. Agora é hora de atuar no interior do ANDES-SN. Agora é hora de atuar no interior da central sindical a que o ANDES-SN, se vincula por filiação e história. Agora é hora de um combate muito exigente em defesa das universidades públicas, dos serviços públicos e da classe trabalhadora.