Feminicídios e Transfobia em Mato Grosso do Sul: A Urgência de Medidas Efetivas

Em 2025, Mato Grosso do Sul tem enfrentado uma preocupante onda de feminicídios e casos de transfobia. Em 26 dias, seis mulheres foram brutalmente assassinadas no estado, evidenciando a urgência de ações mais efetivas por parte do serviço público para a proteção das vítimas e o combate à violência de gênero.

O primeiro feminicídio registrado no ano foi o de Karina Corim, morta a tiros na cabeça pelo ex-marido, Renan Dantas Valenzuela, em Caarapó. Renan, que não aceitava o fim do relacionamento, usou a arma do pai, policial militar, para cometer o crime. Além de Karina, sua amiga Aline Rodrigues, de 30 anos, também foi assassinada. O agressor ainda incendiou o local antes de tirar a própria vida.

Poucos dias depois, a jornalista e servidora pública Vanessa Ricarte, de 42 anos, foi esfaqueada pelo companheiro, o músico Caio Nascimento, dentro de sua própria casa, no bairro São Francisco, em Campo Grande. Vanessa foi socorrida e levada à Santa Casa em estado gravíssimo, mas não resistiu aos ferimentos.

Outro caso chocante foi o assassinato de Juliana Domingues, moradora da comunidade indígena Nhu Porã, morta a golpes de facão pelo companheiro, Wilson Garcia, às margens da BR-163. O crime ocorreu diante do filho da vítima, um menino de apenas oito anos. Wilson fugiu para a aldeia Teykuê, mas foi capturado na madrugada seguinte pela polícia.

No dia 22 de fevereiro, Miriele Santos, de 26 anos, empresária, foi assassinada a tiros em Água Clara pelo seu ex-companheiro, que discutiu com a vítima antes dos disparos serem ouvidos pelas testemunhas.

Apenas um dia depois, 23 de fevereiro, Emiliana Mendes, de 65 anos, foi assassinada por Vanderson dos Santos Carneiro, de 35 anos, na noite de domingo, na cidade de Juti, a 311 quilômetros de Campo Grande. Para simular uma morte natural, ele colocou o corpo da vítima sobre um colchão em uma quitinete. O crime só foi descoberto na manhã seguinte, quando a Polícia Civil foi acionada.

O último caso foi o de Gisele Cristina Oliskowski,  morta a pedradas na cabeça e carbonizada em uma cova rasa no quintal de casa, no bairro Aero Rancho, em Campo Grande. O crime ocorreu em 1º de março e foi o sexto caso de feminicídio em MS neste ano. O autor, Jeferson Nunes Ramos, alegou que agiu após levar três tapas no rosto da vítima. 

Mudança na Lei Maria da Penha

Ao passo que os casos contra a vida de mulheres acontecia no Estado, no dia 21 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão histórica ao determinar que a Lei Maria da Penha (11.340/2006) pode ser aplicada em relações afetivo-familiares que envolvam casais homoafetivos do sexo masculino, travestis e mulheres transexuais. A medida reconhece a omissão do Congresso Nacional em legislar sobre a questão e garante maior proteção jurídica a essas populações vulneráveis.

A Adufms (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) destaca que os recentes acontecimentos evidenciam a necessidade de reforçar ações mais incisivas do poder público no âmbito da segurança pública. Ao ver a quantidade de casos de feminicídio que aconteceram no curto espaço de 26 dias, torna-se quase uma prioridade o recrudescimento nas investigações e julgamentos dos autores de crimes que envolvam a segurança da mulher, ou a falta dela.  

Onde buscar ajuda?

A Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande, funciona 24 horas na Rua Brasília, Jardim Imá, oferecendo serviços como Delegacia da Mulher, Defensoria Pública, Ministério Público, Vara Judicial, apoio social e psicológico, alojamento, brinquedoteca e Patrulha Maria da Penha. O telefone para contato é 153.

Denúncias anônimas podem ser feitas pelo 180, canal nacional de orientação e encaminhamento para vítimas de violência, disponível 24 horas. Em casos de emergência, a recomendação é acionar a Polícia Militar pelo 190.