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Adufms Educação Entrevista

Em entrevista ao portal Observatório, presidenta da Adufms fala sobre perspectivas para a educação

A professora Mariuza Guimarães, presidenta da Adufms durante o biênio 2023-2025, cedeu uma entrevista à jornalista Andréia Cercariolli para o portal Observatório. Na conversa, foram abordadas as perspectivas em relação às políticas para a educação superior pública durante o atual governo federal, os desafios da nova gestão na Adufms, entre outros temas.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Em entrevista exclusiva para o Observatório, Mariuza Guimarães relata que, com o atual governo “Gradativamente os recursos estão chegando à UFMS que é o nosso espaço de atuação, mas temos resquícios de uma política antidemocrática, sem transparência e personalista, o que nos impede de ver estes benefícios da forma como deveriam ser efetivados.”

A professora Mariuza Guimarães é doutora em educação pela UFMS, mestra em educação pela mesma instituição e pedagoga, com um vasto currículo na área da educação e atualmente presidenta da ADUFMS – Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Com a vitória do Presidente Lula o destino das universidades públicas mudou?

Já se sente que há novos ares na universidade, uma leveza que não existia no pós-golpe. A postura dos dois últimos governos criou um clima de terror e de medo das perseguições. O fantasma da ditadura rondou os nossos corredores que ainda tem feridas abertas da era pós-1964. Podemos dizer que a esperança de liberdade voltou, mas ainda é cautelosa. A extrema direita neofacista não está morta.

O corte de bolsas, negacionismo, fake news e perseguição do governo anterior comprometeram o desenvolvimento do ensino superior no país?

Do ponto de vista de uma universidade na qual se investe para produzir conhecimento que tem por objetivo atender as demandas da sociedade, em especial, as classes populares; a liberdade de ensinar e aprender, conforme previsto na LDB, foram grandes os prejuízos. Demoraremos um tempo para resgatar a universidade pública, gratuita, laica, de qualidade social, pela qual lutamos durante quase um século no país. Mas se o olhar for o dos privatistas, foi positivo, mais um pouco e a universidade deixaria de ter as características que para nós simboliza a universalização do conhecimento e que nos é tão cara.

O que fazer para haver uma mudança?

A palavra de ordem é MOBILIZAÇÃO. O governo que ora dirige o país é de uma ampla coalizão, com projetos de país diferentes e que se uniram circunstancialmente para lutar contra a extrema direita e suas ações nefastas que não representa alguns setores da elite brasileira neoliberal, portanto temos um governo em permanente disputa. Se quisermos recuperar nossos direitos e garantir a democracia como organização precípua para nosso país teremos que implementar ações contundentes para a organização de nossa categoria e promover as mobilizações necessárias para as conquistas de direitos.

Nos últimos anos, as universidades públicas tiveram redução de investimento. Em 19, Lula anunciou a recomposição de R$ 2,44 bilhões no orçamento do ensino superior. Este investimento já sendo utilizado em Mato Grosso do Sul para fortalecimento da educação superior e do ensino profissional e tecnológico?

Gradativamente os recursos estão chegando à UFMS que é o nosso espaço de atuação, mas temos resquícios de uma política antidemocrática, sem transparência e personalista, o que nos impede de ver estes benefícios da forma como deveriam ser efetivados. A universidade ainda trabalha com empresas terceirizadas para atender aos serviços básicos e gerais, comprometendo a sua continuidade pelas sucessivas desistências destas empresas, ainda vemos a Educação a Distância substituindo a educação presencial, sobretudo nas unidades do interior, que em tempo muito curto se transformarão em meros polos EAD, com forte impacto na qualidade e no tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Enfim, não basta apenas liberar recursos, temos que mudar a concepção de universidade que vinha sendo construído nos últimos anos.

O que falta nas nossas Universidades?

No caso da UFMS, a democratização dos conselhos superiores e demais espaços de decisão das ações a serem desenvolvidas; a transparência na aplicação dos recursos. Para ilustrar os tópicos apresentados, destaco as reuniões do Conselho Diretor e do Conselho Universitário, onde as manifestações são apenas as dos representantes do Sindicato dos técnicos, SISTA, e dos docentes, a ADUFMS. Estas reuniões têm acontecido de forma online, transmitidas por meio da TV Universidade, onde durante toda a reunião aparecem apenas o reitor e a vice reitora. As demais participações são por meio do chat ou da voz, mas sem a identificação visual de quem fala. Quanto aos recursos financeiros, muito deste se dão por meio de emendas parlamentares ou financiamento captados por projetos apresentados por docentes, com fomento externo. Estes recursos são administrados pela fundação vinculada à universidade, a FAPEC, que apresenta relatórios financeiros, conforme determina a lei. Mas a definição dos projetos contemplados por meio destes recursos não são transparentes. São editais aligeirados, publicados no período de recesso quando a maioria dos docentes estão em férias e aparentemente direcionados. As bolsas destinadas (definidas pelos coordenadores) tem valores altos e não há uma régua delimitadora. Questionamos em reunião do CD e recebemos como resposta que quem define bolsas e os respectivos valores, incluindo os de diárias, são os coordenadores/as.

Concurso Público, há previsão?

Sim, já foram aprovados dispositivos pelo governo que permitirá a retomada da realização de concursos públicos, ainda em 2023.

Quais os desafios nessa nova gestão do sindicato que você representa?

Dentre os desafios impostos pela conjuntura podemos destacar: a luta pela reposição salarial; a democratização dos espaços da UFMS, como: o uso de espaços físicos pelo sindicato para as suas ações em todas as unidades e campus, a superação da política de intimidação da gestão federal e local com vistas à promoção da liberdade de manifestação sem ameaça de punição; a ampliação do alcance da categoria, sobretudo, os docentes que ingressaram mais recentemente e que são os que mais perderam direitos; a melhoria em nossas estratégias de comunicação; entre outros.

Enquanto Presidenta quais as demandas pontuais prioritárias?

Conforme expresso em nossos desafios são muitas as demandas para a atual diretoria “ADUFMS PLURAL E DEMOCRÁTICA”, mas elegemos como demandas prioritárias a luta pela recomposição da carreira e dos salários e uma política de comunicação que dialogue com a categoria, seja para alcançar filiados e filiadas ou conquistar novas filiações.

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Nota

Nota de Pesar (pelo falecimento da professora Dra. Eubéa Senna de Almeida)

A Adufms manifesta seu pesar pelo falecimento da professora Dra. Eubéa Senna de Almeida, nesta quarta-feira (19 de abril), aos 94 anos. Figura de destaque na história da educação em Corumbá, Eubéa foi uma das fundadoras do Campus Pantanal (CPan), que dirigiu entre 1984 e 1986.

A professora foi aluna da primeira turma do curso de Pedagogia no antigo Centro Pedagógico de Corumbá, que viria a ser o CPan, cuja Unidade II leva seu nome em homenagem às contribuições prestadas à Universidade.

A importância de Eubéa é tamanha que sua trajetória foi objeto do artigo “Professora Eubéa Senna de Almeida: As memórias… As histórias…”, publicado na Revista GeoPantanal, vinculada ao curso de Geografia e ao Mestrado em Estudos Fronteiriços da UFMS.

O perfil, de autoria de Soraia Abrahão Alle, Alexandre Cougo e Sílvia Adriana Rodrigues, é um relato biográfico que apresenta, de acordo com os autores, o “movimento de constituição pessoal e profissional da educadora”, desde seu nascimento, e compõe a edição n. 23 da publicação, lançada no ano de 2017.

A Adufms ressalta sua solidariedade à família, colegas, amigos/as e alunos/as de Eubéa, além de todas as pessoas que tiveram suas vidas atravessadas pela educadora.

Para ler o artigo citado, clique aqui.

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Educação Manifestações

Ato pela revogação do Novo Ensino Médio ocorre nesta quarta

Ocorre nesta quarta-feira (19 de abril) um ato pela revogação do Novo Ensino Médio, em Campo Grande. A manifestação é convocada pelo Comitê MS pela Revogação do Novo Ensino Médio, que inclui entidades sindicais, movimentos de defesa da educação e representantes estudantis.

O ato será realizado na Praça do Rádio, a partir das 16h30, e compõe uma mobilização nacional contra o sucateamento do ensino. A agenda do Comitê inclui ainda a Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, entre os dias 24 e 28 de abril. As atividades serão divulgadas.

O Comitê MS pela Revogação do Novo Ensino Médio foi inaugurado no dia 28 de março, na sede da ACP. Houve nova reunião no dia 5 de abril, de forma híbrida. Ambas tiveram presença do presidente da Adufms, professor Dr. Marco Aurélio Stefanes.

O Comitê é formado por entidades como a CNDCH (Campanha Nacional em Defesa das Ciências Humanas na Educação Básica), a CNDE (Campanha Nacional pelo Direito à Educação) e a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), com apoio da Adufms, do Feems (Fórum Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul) e do Observatório do Ensino Médio.

 

 

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Educação

Comitê pela Revogação do Novo Ensino Médio se encontra nesta quarta

Ocorre nesta quarta-feira (5 de abril) a primeira reunião do Comitê MS pela Revogação do Novo Ensino Médio após sua instalação, ocorrido no último dia 28. O encontro será híbrido, com possibilidade de participação à distância para quem se encontra no interior do estado.

O presidente da Adufms, professor Dr. Marco Aurélio Stefanes, estará presente representando a entidade. Stefanes também participou do evento de lançamento. O Comitê é formado por entidades como a CNDCH (Campanha Nacional em Defesa das Ciências Humanas na Educação Básica), a CNDE (Campanha Nacional pelo Direito à Educação) e a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), com apoio da Adufms, do Feems (Fórum Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul) e do Observatório do Ensino Médio.

Assim como no primeiro encontro, a reunião será realizada na sede da ACP, localizada na Sete de Setembro, n. 693, no Centro de Campo Grande. A previsão é que se inicie às 18h30 e termine por volta das 20h.

Novo Ensino Médio

A Reforma do Ensino Médio foi institucionalizada pela Medida Provisória MP 746/2016, pouco depois do início da gestão de Michel Temer (MDB-SP) na Presidência da República. A justificativa dada pelo governo foi de que o modelo então vigente seria “pouco atrativo”.

Iniciou-se, então, um processo de retirada da obrigatoriedade da maioria das disciplinas, com exceção de Português e Matemática. Adotou-se também a oferta de ensino técnico e profissionalizante e revogou-se a exigência de diplomas para professores, passando a haver a possibilidade de docência por “notório saber”.

Desde o início da implementação, pesquisadores e entidades de defesa da educação pública apontam que o Novo Ensino Médio é um retrocesso, que representa o aumento do abismo existente entre a qualidade de escolas públicas e instituições privadas de ensino básico.

Organizações ligadas ao lobby de grandes conglomerados de ensino, como o Instituto Ayrton Senna e o Todos Pela Educação, têm pressionado o governo federal pela consolidação do Novo Ensino Médio em todo o Brasil. No entanto, nesta segunda-feira (3 de abril), foi anunciada a suspensão do modelo.

Norberto Liberator (Assess. de Comunicação)

 

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Educação Manifestações

Ato contra bloqueio na educação ocorre nesta quinta em Campo Grande

A Adufms estará presente, junto a outras entidades ligadas à defesa da educação, no Ato em Defesa da Educação nesta quinta-feira (8 de dezembro), a partir das 9h, na Praça Ary Coelho. A mobilização se insere no contexto nacional de luta contra o bloqueio de R$ 344 milhões realizado pelo governo de Jair Bolsonaro no orçamento das universidades e institutos federais.

Com o corte realizado, as instituições correm risco de não funcionar, devido à falta de verba para luz, água, segurança, limpeza e outros serviços básicos, além de não haver dinheiro para manter as bolsas para pesquisa, permanência e moradia de estudantes. O impacto será de cerca de 4 mil estudantes prejudicados/as, sem garantia de recursos para continuar seus estudos, moradia e alimentação.

O valor bloqueado representa mais um ataque da gestão de Bolsonaro à educação. Um corte de R$ 438 milhões já havia sido realizado na metade do ano. De acordo com Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR e presidente da Associação Nacional de Dirigentes de Instituição de Ensino Superior (Andifes), “é uma situação absolutamente inédita, e nos deixa sem recursos e sem possibilidade de honrar os gastos das universidades, inclusive bolsas, conta de luz e água, coleta de lixo, e nossos terceirizados”.

O sucateamento da educação, aliado à política de “terra arrasada” que se prepara para o futuro governo Lula, é justificado com argumentos de que seriam necessários “contingenciamentos” para “não furar o teto de gastos”. No entanto, contraditoriamente, o mesmo governo liberou em setembro R$ 3,5 bilhões para o chamado “orçamento secreto”, ou seja, conjunto de verbas repassadas a parlamentares sem necessidade de explicação sobre a destinação do dinheiro. Durante o período eleitoral, foram mais de R$ 9 milhões gastos no cartão corporativo.

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Educação Manifestações

Mesmo com chuva, ato pela educação reúne mais de 100 estudantes na UFMS

Mais de 100 estudantes participaram, nesta terça-feira (18 de outubro), do ato contra a política de cortes na educação executada pelo governo de Jair Bolsonaro. A manifestação ocorreu na UFMS e foi convocada pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e pelos Centros Acadêmicos Organizados da UFMS.

Ingryd Trigilio, estudante de Ciências Sociais e vice-presidente da UNE, afirma que, apesar da chuva – que impediu um número maior de participantes –, a adesão foi satisfatória. “Acho que o movimento estudantil é muito forte, mas tem dificuldade de mobilização. A partir do momento em que você movimenta trabalhos dentro da universidade, acaba agregando mais estudantes. Porque quanto maior, mais tem força para mostrar que o movimento estudantil está vivo e potente, latente”, explica a acadêmica.

Em Corumbá e Três Lagoas, houve plenárias para tratar de mobilizações a respeito dos cortes. No caso de Corumbá, foi realizada uma aula pública sobre os confiscos e a PEC 32, que, se aprovada, reduz direitos dos servidores federais e abre espaço para substituição dos concursos públicos por indicações políticas.

Política de cortes

O governo Bolsonaro havia anunciado, no dia 5 de outubro, o confisco de R$ 2,4 bilhões do MEC, sendo R$ 328,5 milhões das universidades e R$ 147 milhões dos institutos federais. Diante da repercussão negativa, o Ministério recuou e anunciou o desbloqueio. Mesmo com o recuo, as mobilizações continuam, já que durante toda sua administração, Bolsonaro praticou uma política de cortes e desincentivos à educação federal. Já em seu primeiro ano de gestão, em 2019, cortou R$ 926 milhões da área. Em 2021, reduziu em quase R$ 5 bilhões o orçamento do Ministério e vetou mais R$ 2,2 bilhões.

Os valores retirados das instituições somariam mais de R$ 763 milhões somente no ano de 2022. O impacto faria com que as instituições não tivessem condições de pagar suas contas de água, luz, despesas com pessoal, serviços de segurança, limpeza e assistência estudantil. Jair Bolsonaro chamou a medida de “contingenciamento”, no entanto, na prática, o que ocorreu foi um congelamento de recursos.

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Educação Nota Serviço público Sindicalismo UFMS

Carta aberta à sociedade sul-mato-grossense

O preço da educação

A união entre estudantes, docentes e setores mobilizados da sociedade civil conseguiu reverter mais um retrocesso. Diante da pressão, o governo recuou e anunciou o desbloqueio do confisco de R$ 2,4 bilhões do MEC, sendo R$ 328,5 milhões das universidades e R$ 147 milhões dos institutos federais. No entanto, não mencionou se desbloqueará o valor integral ou parte dele.*

Os valores retirados das instituições somariam mais de R$ 763 milhões somente no ano de 2022. O impacto faria com que as instituições não tivessem condições de pagar suas contas de água, luz, despesas com pessoal, serviços de segurança, limpeza e assistência estudantil. Jair Bolsonaro chamou a medida de “contingenciamento”, no entanto, na prática, o que ocorre é um congelamento de recursos.

Mesmo com o recuo, a educação segue em risco, assim como a saúde e outros direitos básicos da população. Estamos diante de um governo que, entre outras medidas, já cortou 1,9 bilhão do programa Farmácia Popular e reduziu em até 99% o orçamento de políticas para mulheres, o que impacta no funcionamento de creches e delegacias da mulher. Com mais esses confiscos na educação, Bolsonaro prejudica a formação acadêmica em todos os níveis, com impacto na permanência estudantil e nas pesquisas. O resultado, caso não seja revertido, será o de milhões de estudantes obrigados a deixar os estudos por falta de recursos.

Para onde Bolsonaro tenta canalizar esses recursos, em pleno período eleitoral? Não é difícil saber. No final de setembro, Bolsonaro liberou R$ 3,5 bilhões para o chamado “orçamento secreto”, ou seja, conjunto de verbas destinadas a parlamentares sem necessidade de explicar para onde vai o dinheiro. Ou seja, para atender a vontade do Centrão de ficar com verbas públicas em troca de apoio eleitoral. Resumindo, creches, tratamentos de câncer, remédios da Farmácia Popular e o futuro do ensino público federal estão em risco devido a um esquema de compra de votos, operado por Arthur Lira e Jair Bolsonaro.

Conclamamos a população sul-mato-grossense a nos acompanhar nas ações contra este desgoverno inimigo da educação, da ciência, da infância e da classe trabalhadora. Precisamos de governantes que tenham compromissos com a formação desde as séries iniciais até a pós-graduação. É necessário que se mostre aos mandatários desse país que 90% da pesquisa científica no Brasil são oriundos das universidades públicas. Por isso, reafirmamos nosso compromisso com o presidente que criou 18 universidades federais, 173 campi e mais de 380 unidades de institutos federais: Luiz Inácio Lula da Silva. A educação não suportará mais quatro anos de um governo que tem por objetivo destruí-la.

Amanhã será um novo dia, com Lula contra a barbárie.

*Até a publicação desta carta, não houve confirmação do desbloqueio por meio de publicação em sistema oficial.

Assinam este manifesto:
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Adufms)
Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Fundação UFMS e IFMS (Sista)
Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Aduems)
Associação dos Docentes da Universidade Federal da Grande Dourados (AdufDourados)
União Nacional dos Estudantes – Mato Grosso do Sul (UNE-MS)

 

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Educação Nota Pesquisa

Contra ameaças à educação e à ciência, SBPC publica Carta de Brasília

A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) publicou, na última quinta-feira (28), um documento intitulado ‘Carta de Brasília’, no qual defende a Constituição Federal — que tem sido alvo de ataques por parte do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores —, a pesquisa científica e os investimentos em educação, ambos também atacados pelo governo, tanto em declarações, como em corte de incentivos.

Leia a carta na íntegra:

O Brasil passa hoje por uma situação crítica em que a democracia está em risco. Várias crises simultâneas têm atingido a sociedade brasileira: fome, pobreza, violência e insegurança pessoal, preconceitos exacerbados, pandemia recorrente de COVID-19, exploração predatória de nossos recursos naturais, inflação acelerada, custo de energia elevado, estagnação econômica, entre outros. Esse quadro crítico é resultado direto da implementação de políticas de desmonte institucional e com alto custo social, bem como da ausência de ações governamentais efetivas em questões essenciais para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país.

A Ciência e a Educação nunca estiveram tão ameaçadas no Brasil, com a desvalorização dos professores e da educação básica, laboratórios sendo fechados, institutos de pesquisas à míngua, e as universidades sem condições mínimas de cumprirem sua missão, além de uma forte fuga de cérebros para o exterior. Nossa Constituição está sendo atacada e desfigurada, com contínuos ataques ao Estado Democrático de Direito e até mesmo ameaças ao procedimento de eleições livres e democráticas. Cumprir as leis, em particular a Constituição Federal, é uma condição básica e essencial rumo à reconstrução de nosso país.

A SBPC reafirma sua convicção de que a educação é um pilar fundamental para o êxito de políticas públicas orientadas ao combate à enorme desigualdade social em nosso país. A ciência é, cada vez mais, o motor do desenvolvimento econômico soberano e um instrumento fundamental para proporcionar melhores condições de vida e trabalho à população brasileira.

Sem ciência, nossa sociedade está condenada ao subdesenvolvimento, à submissão e ao atraso social. Nossa Constituição Federal garante o acesso à educação, à ciência e tecnologia, à saúde, ao meio ambiente e o respeito aos direitos humanos e às liberdades democráticas. Nossos jovens e o conjunto da população brasileira têm direito a uma educação inclusiva e de qualidade.

As eleições de outubro próximo serão decisivas. Nelas, teremos chance de mudar os rumos do país. É fundamental que possamos implementar, a partir de janeiro, políticas públicas que revertam o dramático quadro social, político e econômico no qual estamos imersos. A SBPC conclama os brasileiros a votar em outubro, com confiança, serenidade e consciência, elegendo representantes para o Executivo e o Legislativo que efetivamente defendam os interesses legítimos de nossa sociedade.

Conclama igualmente todas as entidades e instituições e os diversos setores organizados da sociedade civil a atuarem em conjunto e firmemente em defesa da realização das eleições livres e do respeito aos seus resultados. É imprescindível a obediência à soberania popular, como determina a nossa Carta Magna: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

É também essencial que nos unamos na construção de um projeto nacional novo, inspirado nos valores éticos e nos conhecimentos científicos, que atenda às necessidades fundamentais do País e de nossa gente. Nossos jovens têm que poder sonhar com um Brasil no qual possam viver condignamente e do qual possam se orgulhar. As próximas eleições serão fundamentais para isto.

Brasília, 28 de julho de 2022

SBPC

Clique aqui para acessar o documento

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Educação UFMS Universidades

Brasil perdeu 83,8 bi em educação federal nos últimos sete anos, aponta estudo

Um levantamento recente realizado pelo Observatório do Conhecimento revela que, em sete anos, o orçamento para a educação federal no Brasil perdeu 83,8 bilhões de reais. O estudo também estima que as perdas no investimento em educação e ciência sejam em torno de 98,8 bi e que possam chegar a 100 bi em 2022.

Em 2014, primeiro ano da série histórica analisada pelo relatório, o orçamento destinado à educação superior foi de 27,81 bilhões de reais. Em 2021 esse valor foi de 10,57 bi – ou seja, apenas 38% do que foi destinado naquele ano, podendo haver uma perda ainda maior neste ano.

O documento aponta que, “para que o valor empenhado em 2014 no Orçamento do Conhecimento tivesse se mantido constante em termos reais, quase R$ 84 bilhões deveriam ter sido gastos a mais nestas áreas, relativas ao Ensino Superior, Pesquisa e Inovação”. Todos os custos da UFRJ, por exemplo, somaram 3,3 bilhões de reais em 2021. O estudo demonstra que, caso o investimento não tivesse reduzido drasticamente, este valor seria suficiente para manter 665.230 bolsas de mestrado durante sete anos ininterruptos.

Vale lembrar que o governo de Jair Bolsonaro, desde o início, tem atacado a educação superior. Ainda em 2019, o ex-ministro Abraham Weintraub anunciou um congelamento de 30% no orçamento para instituições federais, que acusou de servirem como espaço de “balbúrdia” e de “plantarem maconha”. No mesmo ano, realizou cortes que inviabilizaram 11 mil bolsas de pós-graduação.

Em 2022, Bolsonaro bloqueou 14,5% do repasse para custeio e investimento nas universidades e institutos federais, o que representa uma quantia de 3 bilhões de reais em toda a verba para instituições federais de ensino. Enquanto isso, o governo destinou 699 milhões de reais a parlamentares de seu partido, o PL, pelo chamado “orçamento secreto”, ou seja, verbas liberadas sem necessidade de justificativa e cujos beneficiários não tinham seus nomes divulgados, até determinação do STF exigindo a identificação de quem utilizou o recurso.

Para conferir o relatório do Observatório do Conhecimento, clique aqui.

 

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Educação Sindicalismo UFMS

Priorização de EaD representa sucateamento de ensino e trabalho, avaliam professores

Com 1.500 vagas abertas para cursos na modalidade de Educação a Distância (EaD), a UFMS tem ampliado o espaço para esta categoria de ensino. Após o retorno das aulas presenciais no início deste ano, abolindo o ensino remoto emergencial iniciado em 2020 devido à pandemia de coronavírus, a gestão da universidade decidiu prolongar as aulas online, inicialmente abrindo a possibilidade de que até 40% das estruturas dos cursos sejam à distância, atendendo à portaria 2.117/2018 do MEC.

Em agosto de 2021, a UFMS anunciou cursos de formação em EaD para professores e técnicos-administrativos, deixando clara a diferença entre este e o ensino remoto, adotado em caráter emergencial durante a primeira fase da pandemia. Mais recentemente, a universidade oferta cursos de graduação 100% EaD. Professores que acompanharam a discussão no Conselho Diretor (CD) e Conselho Universitário (Coun) avaliam que a medida atende a uma política de sucateamento, tanto do ensino quanto do trabalho docente.

Para o professor Dr. Edelberto Pauli Júnior, representante da Adufms no Conselho Diretor da UFMS, a aprovação da proposta de ampliação da EaD no órgão era esperada. “O Conselho costuma aprovar tudo o que a administração central solicita. Tal unidade política foi conseguida desrespeitando, em alguns casos, o voto da própria comunidade nas consultas públicas que elegeram os diretores. Mas a implantação do ensino híbrido de forma definitiva – que a instituição insiste em denominar EAD – ficou restrita à discussão no Conselho de Graduação (Cograd)”, argumenta.

Edelberto avalia que a instância não tem priorizado o debate interno, com decisões autocráticas. “Este conselho aprovou a transformação total do regime de trabalho, nos estertores do ano passado, sem qualquer debate amplo e aberto com a comunidade. Ao contrário de outras IFEs, o ensino remoto emergencial fora implantado entre nós sem a devida prudência. O que resultou em um fracasso completo no processo de ensino/aprendizagem durante a pandemia”, pontua o professor.

Na avaliação do professor Dr. Alexandre Meira de Vasconcelos, representante do sindicato no Conselho Universitário (CoUn), “toda e qualquer alteração nos serviços públicos em geral são bem-vindas por governos neoliberais quando é tratada puramente como custo”. Alexandre explica que, para a ideologia neoliberal, “a educação não é um bem ou um direito para os governantes, mas um peso financeiro porque a despesa de pessoal é grande e o impacto de nossas ações não se percebe no curto prazo, como é o caso dos serviços de saúde ou segurança”.

O professor destaca que, para o neoliberalismo, a qualidade do ensino e a produção científica são menos importantes do que o lucro. “A lógica deles é a seguinte: ‘A despesa está alta com a educação, então vamos reduzir custos’. Por esse viés, o professor é um problema, porque é a maior fonte de despesa. Produzir diplomas (não educação) em massa, pelo EaD, é mais barato do que produzir pelo ensino presencial, embora este último seja comprovadamente mais eficaz pelos indicadores oficiais do MEC (Enade, por exemplo) e pela empregabilidade dos egressos”.

Alexandre chama a atenção para o fato de a ampliação da EaD não representar qualificação profissional. “O chamado ‘mercado’ implora por pessoas qualificadas, mas não são os nossos alunos, pois os nossos estão empregados em sua maioria, quando comparados aos que se formaram em instituições privadas. O problema não está em nós e não precisamos necessariamente ofertar EaD. Devemos tê-la como opção de ferramenta pedagógica e não como um fim em si mesma”, pontua.

“Existe a mania, vício ou má índole de culpar os professores pelos males da educação nacional, mas o problema não está em nós. Desde sempre as universidade públicas formam as cabeças pensantes deste país, tanto que muitos são cooptados por universidades estrangeiras que oferecem não somente salário digno, mas oportunidades de trabalho e condições estruturais adequadas”, destaca o docente. “O discurso de que a educação que se oferece na universidade pública é insuficiente para atender o mercado é que abre espaço para que pessoas mal-intencionadas inventem alternativas mirabolantes para resolver o problema da educação”.

Para Alexandre, a adesão das universidades públicas à EaD não é solução para os desafios da educação e, pelo contrário, são as instituições privadas que precisam reavaliar a qualidade de seu ensino e pesquisa. “O movimento pela EaD toma força e já é realidade em mais de uma centena de universidades públicas brasileiras. São colegas que por boa ou má fé entram nessa cilada de que é preciso melhorar os indicadores educacionais das universidade públicas e que o EaD é a resposta. Ora, por que não ser mais rigorosos com as universidades privadas por não ofertarem cursos com a mesma qualidade dos nossos?”, questiona.

“Seguindo o raciocínio raso centrado no corte de custos, os cursos de licenciatura e todos aqueles que podem ser ministrados presencialmente de forma puramente teórica – não que isso seja correto do ponto de vista da formação do sujeito, mas é correto do ponto de vista legal e operacionalmente possível – são uma grande oportunidade para ofertá-los neste tipo de modalidade”, explica Alexandre. “São cursos que não necessitam obrigatoriamente de atividades laboratoriais, como os cursos da saúde em geral, e não oferecem uma resistência institucional, nem dos órgãos de representação profissional, que seja suficiente para impedir o avanço do EaD”, finaliza.

Elitismo

De acordo com Edelberto, tal política em um país desigual como o Brasil é uma forma de dificultar o acesso da classe trabalhadora ao ensino. “Vendida como inclusão digital e inovação tecnológica, a denominada EAD se vincula ideologicamente aos postulados do empreendedorismo e da inovação”, aponta. “Em um país onde a renda de 70% da população não ultrapassa dois salários mínimos, vender a ideia de que o aluno pobre é responsável individualmente por sua condição social é de uma falsidade ideológica e de uma violência social atrozes”, conclui o professor.

Esta é a mesma avaliação de Alexandre, para quem “o principal retrocesso ao se adotar o EaD como prática prioritária em determinados cursos é que as pessoas mais pobres, sem acesso à tecnologia e sem uma formação básica com qualidade, serão alijadas do acesso ao ensino superior”. O professor ressalta que, desta forma, “a universidade pública deixa de cumprir seu papel de distribuir educação com qualidade a todos os setores da sociedade, atendendo somente a uma casta branca e privilegiada”.

Perda de autonomia

A forma como a Educação a Distância tem sido implementada e seus critérios de avaliação também se chocam com a autonomia docente. Sobre este fator, Edelberto destaca que “a normativa de n. 01 da Agead, de 11 de abril de 2022, institui uma comissão interdisciplinar para avaliar a pertinência ou não do material didático produzido nas disciplinas com carga horária parcial ou total em EAD, estabelecendo inclusive regras e notas para a avaliação do conteúdo”.

O professor do Cpaq conclui que, desta forma, “de uma só vez, a instituição passa por cima da autonomia administrativa do colegiado – que teria a função de avaliar os planos de ensino das disciplinas do curso – e da autonomia didático-pedagógica do corpo docente que terá que se adequar às limitadíssimas regras instituídas a priori para realizar seu trabalho”.

Para ler as duas entrevistas na íntegra, acesse os arquivos abaixo:

Entrevista — Alexandre M. de Vasconcelos

Entrevista — Edelberto Pauli Jr.

 

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Educação Manifestações

Mesmo com chuva, estudantes fazem ato contra sucateamento da educação na UFMS

A forte chuva não atrapalhou a organização do ato pela educação na UFMS nesta quinta-feira (9). Apesar do número de participantes abaixo do esperado, cerca de 100 manifestantes estiveram no local, onde exibiram faixas e cartazes, distribuíram panfletos e entoaram palavras de ordem. A mobilização foi contra o corte de mais de 1 bilhão de reais realizado por Bolsonaro na educação federal, além dos projetos de lei que propõem homeschooling e cobrança de mensalidades em universidades públicas.

Representante da União Nacional dos Estudantes (Une) e acadêmica de Ciências Sociais, Ingryd Trigilio explica que a expectativa era que houvesse de 500 a 600 manifestantes, como ocorreu no ato contra o aumento de até 233,3% no valor do Restaurante Universitário. “Atrapalhou demais. Foi complicado, começou a chover bem na hora da concentração”. A estudante foi uma das organizadoras da manifestação em Campo Grande.

O ato fez parte de uma mobilização nacional convocada por entidades como a Une, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet). Na UFMS, a organização também conta com os centros acadêmicos de alguns cursos, como os de História e de Jornalismo, além de ter o apoio da Adufms e do Sinasefe.

A UFMS sofreu um bloqueio de cerca de 13 milhões de reais no orçamento, como consequência do corte de mais de 1 bilhão de reais na educação federal, realizado pelo governo de Jair Bolsonaro no dia 27 de maio. Vale lembrar que, embora justifique “falta de verbas”, o governo destinou 699 milhões a parlamentares de seu próprio partido (PL) pelo chamado orçamento secreto, ou seja, verbas liberadas sem justificativa de finalidade e que, na prática, funcionam como mecanismo para troca de favores.

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UFMS

Com apoio de sindicatos, estudantes organizam ato pela educação no dia 9

Estudantes da UFMS organizam um ato, marcado para esta quinta-feira (9 de junho), contra os cortes orçamentários na educação superior, a proposta de cobrança de mensalidades nas universidades públicas e a tentativa de institucionalização do ensino domiciliar, conhecido como “homeschooling”. O valor abusivo do Restaurante Universitário também é levantado pelos manifestantes. A manifestação ocorre a partir das 9h em frente à Reitoria da UFMS.

O ato faz parte de uma mobilização nacional convocada por entidades como a União Nacional dos Estudantes (Une), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet). Na UFMS, a organização também conta com os centros acadêmicos de alguns cursos, como os de História e de Jornalismo, além de ter o apoio da Adufms e do Sinasefe.

Ana Laura Menegat, presidenta do Centro Acadêmico de Jornalismo (Cajor), destaca o sucateamento do curso e da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação (Faalc). “O nosso bloco sempre foi motivo de reclamações, porque é muito escuro, tem pouca ventilação, fica cheio de pernilongos, propício a casos de dengue, as cadeiras estão em péssimo estado”.

A acadêmica pontua a negligência da gestão em relação a necessidades básicas de materiais para o curso de jornalismo. “No nosso curso, a gente precisa usar programas Adobe, que não conseguimos ter se a universidade não disponibilizar. Sem os softwares, algumas disciplinas não têm como continuar”. Ana também lembra que a luta dos estudantes está em consonância com a dos professores. “É direito dos professores reivindicar o reajuste, que não é um aumento, e temos que entender que a qualidade de vida dos professores interfere no nosso processo de aprendizagem”.

Ingryd Trigilio, representante da Une em Mato Grosso do Sul e acadêmica de Ciências Sociais, afirma que o ato tem como objetivo defender o futuro dos estudantes. “Bolsonaro tem como principal inimigo a educação. Retira nossos direitos, deixa os jovens sem perspectivas e, principalmente, sem esperança de um futuro melhor”.

Maria Eduarda de Macedo, que cursa o ensino médio no IFMS e é presidenta da União da Juventude Socialista (UJS) em Campo Grande, chama atenção para os cortes recentes na educação. “Fomos pegos de surpresa”, afirma. “Realmente acho que nenhum estudante da rede federal deveria ficar calado diante disso. Acho importante levar isso aos estudantes”, pontua.

Cortes

A UFMS sofreu um bloqueio de cerca de 13 milhões de reais no orçamento, como consequência do corte de mais de 1 bilhão de reais na educação federal, realizado pelo governo de Jair Bolsonaro no dia 27 de maio. Vale lembrar que, embora justifique “falta de verbas”, o governo destinou 699 milhões a parlamentares de seu próprio partido (PL) pelo chamado orçamento secreto, ou seja, verbas liberadas sem justificativa de finalidade e que, na prática, funcionam como mecanismo para troca de favores.

 

 

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Educação Nota

Nota à comunidade sobre a aprovação do PL do “homeschooling”

A Adufms vem a público manifestar sua preocupação e seu repúdio à aprovação do Projeto de Lei 3.179/2012, o “PL do homeschooling”, na Câmara dos Deputados, na última quinta-feira (19 de maio). A proposta visa institucionalizar o ensino domiciliar – também conhecido pelo termo inglês “homeschooling” –, ou seja, transferir aos pais o ensino que deveria ser de responsabilidade de profissionais capacitados para tal. Embora o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MDB-MG) tenha afirmado que o projeto não será votado em regime de urgência, é necessário se atentar à sua tramitação.

De acordo com o PL, os pais devem possuir ensino superior ou tecnológico em qualquer área e as crianças devem estar matriculadas em uma instituição de ensino, que aplicaria avaliações para medir o nível de aprendizado. Tal proposta é um ataque direto ao exercício da pedagogia e de demais licenciaturas, uma vez que há especificidades que apenas podem ser atendidas por profissionais devidamente capacitados academicamente.

O PL da educação domiciliar faz parte da agenda negacionista e anti-ciência do governo de Jair Bolsonaro e de seus aliados, que têm como projeto o desmonte da pesquisa no Brasil e praticam, em seus discursos e atitudes, a exaltação à ignorância. Não é razoável ou minimamente aceitável, por discursos delirantes e conspiratórios, aviltar o trabalho de profissionais que dedicam anos de suas vidas à pesquisa, à prática pedagógica, a planejamentos de aulas e à própria capacitação.

A proposta é, além disso, violenta contra crianças que possuem níveis atípicos de aprendizagem, como deficiências, síndrome de Asperger, espectro autista ou TDAH, cujas características são notadas em ambiente escolar. Além disso, aumenta a possibilidade de que tais crianças sejam repreendidas pelos próprios pais, uma vez que pessoas sem a formação ideal teriam maior dificuldade em compreender a especificidade do aprendizado de seus próprios filhos. Também impediria o convívio de tais crianças com outras, o que seria importante em seu processo de desenvolvimento.

Por último, e ainda mais preocupante, o ensino domiciliar atende aos desejos dos que praticam violência – física, psicológica e sexual – contra crianças e adolescentes. No ambiente escolar, é possível haver monitoramento de tais práticas. Segundo dados do próprio Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, em 2021, dos 18.681 casos de violação de direitos de crianças e adolescentes registrados, em 8.494 (45,4%) os abusadores moravam na mesma residência que as vítimas. Outros 3.330 (17,8%) foram na casa da vítima – por pessoas de confiança da família – e 3.098 (16,5%) na casa do agressor, também considerado “confiável”. Em suma, cerca de 80% dos casos ocorreram em ambiente familiar.

Enquanto entidade defensora da educação libertadora e de qualidade, a Adufms ressalta seu repúdio ao PL 3.179, conclama a sociedade civil a se somar na luta contra tal proposta e pede que os parlamentares federais se comprometam contra tal projeto, que ataca os profissionais da educação e, ao mesmo tempo, ataca a infância e promove a conivência à violência contra crianças e adolescentes.

 

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Adufms Educação Serviço público

Atividade com representante do CNE ocorre nesta sexta

Como parte das atividades sobre o CNE, a Resolução 2/2019 e os impactos sobre os cursos de licenciatura, nesta sexta-feira (6 de maio) ocorre um encontro virtual com um membro do CNE. O objetivo é discutir a medida e suas implicações. O encontro será via Google Meet.

A resolução CNE 2/2019 visa criar formações multidisciplinares que ignoram as especificidades na grade curricular de cada curso de licenciatura, a partir do condicionamento dos cursos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Sobre o tema, o Coletivo de Professores de Licenciatura da UFMS redigiu esta análise. A Adufms pediu sua revogação por meio de um documento, protocolado e entregue a representantes da Reitoria no dia 28 de abril. Na quarta-feira (4 de maio), houve uma atividade com representantes da Anped, Anfop, Anpuh e Prograd sobre o tema.

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Manifestações Nota Sindicalismo

Nota de apoio à greve na educação municipal de Dourados

A Adufms expressa seu apoio e solidariedade aos/às docentes da Rede Municipal de Dourados, que chegam ao quinto dia de paralisação nesta sexta-feira (18 de março) sem conseguir um acordo com a Prefeitura. A categoria luta pelo reajuste de acordo com o Piso Nacional de Educação (33,24%),a reposição inflacionária (10,06%) e a valorização dos/das trabalhadores/as do setor administrativo.

Repudiamos a atitude do prefeito Alan Guedes (PP), que ingressou com mandado de segurança para impedir a greve. Cabe ressaltar que a greve é um direito constitucional da classe trabalhadora, amparada pela Lei 7.738, que no Artigo 2º considera como exercícios de tal direito “a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador”.

Pressionar a categoria para impedir um movimento amparado legalmente pela própria Constituição, servindo-se do Poder Judiciário para tal, é uma tentativa de obstruir um direito histórico, além de demonstrar um comportamento típico de regimes autoritários, que não cabe em um Estado democrático de Direito e que não pode ser normalizado pela sociedade brasileira.

Pedimos ao sr. Alan Guedes – o qual teve seu próprio salário aumentado em 57% no final de 2021 – que reavalie a postura em relação ao movimento, bem como pague às/aos professoras/es o piso reivindicado e valorize os/as profissionais administrativos/as.

Esperamos que as reivindicações do Sindicato Municipal de Trabalhadores da Educação em Dourados (Simted – Dourados) sejam atendidas e desejamos que os/as profissionais da educação em greve tenham força e resistência para manter a luta enquanto ela for necessária.

Todo apoio à greve na Educação Municipal de Dourados! Lutar não é crime!

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Adufms Nota

Nota de pesar pela morte de Lisete Arelaro

A Adufms lamenta profundamente a morte da professora Dra. Lisete Regina Gomes Arelaro, que faleceu no último sábado, dia 12 de março. Pedagoga e doutora em Educação, Lisete dirigiu a Faculdade de Educação da USP e foi uma figura importante na luta pela democratização do ensino no Brasil. Ela tinha 76 anos e enfrentava um câncer. 

Dentre suas inúmeras contribuições, integrou a equipe de Paulo Freire na Secretaria de Educação de São Paulo, durante a gestão de Luíza Erundina como prefeita (1989 a 1992). Também foi titular da pasta em Diadema, em duas oportunidades: entre 1993 a 1996 e de 2001 a 2002, ambas durante mandatos de José Filippi Júnior.

A professora Dra. Maria Dilneia Espíndola Fernandes, de quem Lisete foi supervisora de estágio pós-doutoral na USP – e com quem ela atuou em pesquisas sobre financiamento da Educação –, destaca que falar sobre seu legado “é lembrar também da pedagogia de Paulo Freire, da emancipação humana, mas sobretudo lembrar da generosidade da professora Lisete”.

Militante do PT desde a fundação do partido, Lisete Arelaro deixou a legenda em 2003, filiando-se 10 anos mais tarde ao Psol, pelo qual disputou eleições para o governo de São Paulo em 2018. Única mulher no pleito daquele ano, teve como prioridade máxima de sua campanha os investimentos e projetos para a educação. 

Dilneia relembra ainda a atuação destacada de Lisete em prol de um ensino mais humanizado, democrático e popular. “Incansável lutadora na defesa da escola e da universidade públicas, laicas, democráticas e socialmente referenciadas”, afirma. “A professora Lisete, enquanto pesquisadora, trabalhou com grandes temas da educação nacional. Desde o legado de Paulo Freire, no campo da pedagogia, quanto temáticas importantes como o financiamento da educação básica no Brasil”.

A professora destaca ainda que Lisete também trabalhou junto aos setores mais oprimidos da sociedade e lutou politicamente por justiça social. “Também educou nas ruas e teve uma vivência político-partidária em defesa da sociedade brasileira, com pluralidade, igualdade e condições de vida digna para toda a população”.

A Adufms se solidariza com familiares, amigos/as, companheiros/as de militância e colegas, além de desejar força para enfrentarem o momento de luto. Lisete Arelaro, presente!