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Direitos Humanos Manifestações

Apesar de repressão, Grito dos Excluídos e Excluídas completa trajeto em Campo Grande

Ocorreu, na última quarta-feira (7 de setembro), a 29ª edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas, que tradicionalmente se segue ao desfile cívico do feriado de independência do Brasil. Em Campo Grande, a concentração foi no cruzamento entre as ruas Barão do Rio Branco e 13 de Maio.

Com o tema “Vida em primeiro lugar! Você tem sede e fome de quê?”, cerca de 500 manifestantes percorreram a 13 de maio com palavras de ordem, faixas, cartazes e bandeiras, além de um carro de som em que lideranças se revezaram com falas ao público.

Entre a multidão, foram lembrados os direitos dos povos indígenas ameaçados pela tese do Marco Temporal, além das lutas pela reforma agrária, contra os juros abusivos do Banco Central e pela celeridade no julgamento de Jair Bolsonaro e seus aliados, tanto pelo escândalo do contrabando de joias, quanto pelos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.

Violência policial

Embora o trajeto do ato fosse conhecido, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, sob ordens do governador Eduardo Riedel (PSDB), criou uma barreira com elementos armados e cavalaria para impedir a passagem no cruzamento entre a Rua 13 de Maio e a Avenida Afonso Pena. Alguns agentes não possuíam identificação em suas fardas.

Após discussões e tentativas de diálogo por parte do deputado estadual Pedro Kemp (PT) para convencer a PM a permitir o trânsito da mobilização pacífica, agentes da Polícia utilizaram de violência física contra manifestantes. Em vídeo amplamente repercutido por veículos de imprensa nacionais, é possível identificar a militante Adriane Quilombola sendo empurrada ao chão.

Apesar da repressão, o bloqueio foi desfeito e manifestantes conseguiram prosseguir o trajeto pacificamente, se dirigindo até a frente da Praça Ary Coelho. A professora Mariuza Guimarães, presidenta da Adufms, esteve presente no ato e presenciou o momento da agressão.

Mariuza lamenta a violência aplicada pela PM em desproporcionalidade ao caráter pacífico das pessoas que integravam o ato. “Fizemos uma manifestação pacífica, nos dirigimos até o palanque, quando lamentavelmente fomos impedidos de nos aproximar por um cordão duplo da PM, que reagiu de forma truculenta aos nossos pedidos de abertura da rua para prosseguirmos”.

A professora relembrou a importância do Grito dos Excluídos e das Excluídas. “Apesar desse fato lamentável, demos nosso recado. Avalio o ato como positivo”, pontua a presidenta da Adufms. “É um ato importante em que os movimentos sociais manifestam suas reivindicações perante os agentes públicos. Ontem não foi diferente, fomos à rua defender a vida, a valorização dos serviços públicos, o direito a salários dignos, educação pública, laica e de qualidade, entre outras reivindicações da sociedade brasileira”, conclui.

Galeria (clique nas imagens para ampliar)

Fotos da galeria: Norberto Liberator

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Direitos Humanos UFMS

Por uma universidade sem assédio e sem discriminação

O Mês da Mulher está chegando ao fim, mas a luta contra a opressão de gênero deve ser pautada diariamente. A Adufms tem acompanhado relatos envolvendo docentes e ocorrências dentro do ambiente universitário. Repudiamos qualquer caso de assédio ou violência sexual, além de manifestarmos preocupação com a falta de celeridade e de comprometimento da instituição em relação ao combate a crimes sexuais, bem como à repreensão de membros da comunidade acadêmica que os praticam, dentro ou fora da Universidade.

A Adufms havia solicitado, por meio do Ofício n. 37/2022, informações sobre quais seriam as medidas tomadas pela Reitoria a respeito das investigações que implicaram professores em casos de estupro e pornografia infantil. O documento foi enviado em dezembro e solicitava uma campanha da Universidade contra tais delitos. A Reitoria respondeu por meio do Ofício n. 534/2022, no qual afirma não ter conhecimento e que, portanto, não haveria ações de apuração. O mesmo documento afirma que a gestão estaria à disposição para esclarecimentos, que demandam apuração.

Embora a gestão da Universidade tenha afirmado, em dezembro de 2022, que ignorava o assunto, a prisão em flagrante de um professor e ex-coordenador da Faculdade de Odontologia (Faodo), por portar e compartilhar materiais de pornografia infantil, havia ocorrido em maio daquele ano. A notícia publicada pelo portal Campo Grande News à época afirma que o jornal entrou em contato com a Reitoria, que não respondeu.

No mesmo ano, uma estudante relatou ter sido filmada por um homem no banheiro neutro da UFMS. A jovem afirmou que estava utilizando o banheiro quando percebeu que uma mão com um celular a filmava por cima da divisória das cabines. De acordo com a acadêmica, o homem tentou intimidá-la ao ser questionado, mas um colega que passava pelo corredor no momento a auxiliou e obrigou o autor do assédio a demonstrar que o vídeo já não constava no aparelho. O caso foi levado à Corregedoria da instituição, mas não houve posicionamento oficial da UFMS.

No ano anterior, outro professor, que lecionava no Campus Pantanal (CPan), foi denunciado por suposta violência sexual contra dois sobrinhos menores de idade. De acordo com depoimento da sobrinha, então com 14 anos, o tio a teria estuprado durante cinco anos consecutivos durante as férias escolares, que a adolescente e seu irmão mais novo passavam em Corumbá. A gestão da Universidade afirmou, à época, que não havia sido notificada sobre o caso.

Campanha equivocada

Diante do caso recente envolvendo ilustrações da “Campanha Sou Mulher” da UFMS divulgadas no dia 16 de março, que traziam papéis invertidos no que diz respeito aos dados sobre assédio e à violência contra grupos marginalizados, é necessário ressaltar a importância da conscientização dentro da Universidade.

Um grupo de docentes se articulou para a produção de um manifesto, no qual inserem um conjunto de nove reivindicações, após a repercussão negativa sobre as postagens, que representavam mulheres e pessoas negras no papel de assediadoras.

Docentes que contribuíram para a criação do manifesto se reuniram nesta quarta-feira (28) com a Reitoria para entrega do documento e para pensar em medidas que evitem novas abordagens equivocadas. O documento está aberto a assinaturas (para compreender melhor o caso, acesse esta reportagem da Adufms).

Embora tenha havido retratação por parte da instituição, o que se constitui um avanço, a publicação demonstra que tal preocupação não existiu até então. Somado aos relatos aqui elencados, o ocorrido indica a necessidade urgente de se elaborar políticas específicas na Universidade quanto a assuntos relacionados à violência de gênero, um compromisso firmado pela Reitoria no encontro.

O professor Marcelo Victor da Rosa, que estava presente, explica que a conversa foi propositiva e a gestão escutou as demandas. “O reitor se mostrou aberto ao diálogo, a gestão agora sabe que profissionais que pesquisam o tema estão à disposição para auxiliar na elaboração de campanhas e outras iniciativas”.

Além de Marcelo, também participaram os professores Alberto Martins, Eugênia Portela, Jacy Curado, Lourival dos Santos, Tacinara Queiroz, Thaize Reis e Zaira de Andrade Lopes; a diretora da Agência de Comunicação Social e Científica (Agecom), Rose Mara Pinheiro; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Albert Schiaveto de Souza; e o reitor Marcelo Santos Turine.

Repúdio e combate

Os conteúdos das ilustrações na campanha sobre o assédio demonstram a falta de cuidado e de conhecimento básico sobre o tema, o que se soma à falta de posicionamento sobre os fatos citados envolvendo docentes e o próprio ambiente acadêmico, evidenciando um cenário de descaso para com a dignidade das mulheres e de grupos minoritários.

Em relação à resposta da Reitoria ao ofício enviado pela Adufms em dezembro, sobre os casos que implicam docentes em investigações de crimes hediondos, ambos os cenários são preocupantes. Caso a gestão da Universidade realmente não estivesse a par dos acontecimentos graves envolvendo professores da própria instituição – após meses em um caso e mais de um ano em outro – demonstraria falta de controle sobre o que ocorre envolvendo o nome da própria UFMS. Por outro lado, se a gestão sabia dos fatos citados e se isentou, nota-se o descaso e a desimportância com que trata o tema.

A Adufms acredita que o repúdio a todo tipo de assédio violência sexual é uma forma de demonstrar que a comunidade acadêmica não pode e não deve ser conivente com tais condutas que ferem a dignidade humana.
Incentivamos a realização de eventos, oficinas e outras iniciativas, bem como distribuição de materiais informativos, realizados sempre com cuidado e consulta a pesquisadoras/es, sobre temas como os limites do respeito, os artigos da Constituição que penalizam crimes sexuais e a que meios recorrer para realizar denúncias.

Por uma universidade sem assédio e sem discriminação!

 

 

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Nota

Nota sobre ataques verbais e físicos a militantes em MS

Na data em que se celebra o Dia dos Direitos Humanos (10 de dezembro), a Adufms manifesta sua solidariedade às pessoas que foram agredidas por bolsonaristas no contexto dos atos em defesa da educação e contra o bloqueio de verbas para a educação superior. Nesta quinta-feira (8 de dezembro), houve relatos de violência física em Corumbá e Campo Grande.

Um caso grave de injustiça ocorreu em Corumbá, contra o presidente municipal do PCdoB, Luigi Amarilho do Carmo, que também é estudante na UFMS. Luigi passava de bicicleta em frente ao quartel em direção ao ato pela educação, quando foi provocado por manifestantes que protestavam contra a democracia e pediam por um golpe militar.

O jovem relata que, num primeiro momento, houve discussão verbal, mas que não esperava por ataques físicos. “Quando falam de destruir comunistas, estão falando de mim. Por isso, eu me defendi do que estavam falando enquanto eu passava. Falei que já acabou a eleição. Eu estava na via pública. Chegou um deles com um pedaço de pau e outro puxando minha bandeira. Deram socos, pontapés, chutes”.

Os agressores procuraram a polícia e afirmaram que Luigi os teria ameaçado verbalmente. De acordo com o militante, a polícia não lhe forneceu ajuda. “A polícia não quis ouvir minha versão. Nem na delegacia. Não fizeram protocolo, me colocaram na cela. Fui caluniado, porque ainda disseram que eu estava armado, mas as filmagens vão mostrar a verdade”, afirma.

Após o caso, formou-se uma ampla rede de solidariedade por parte de organizações ligadas à defesa da educação, dos direitos humanos e da democracia. “O pessoal que estava no ato chegou lá, tive respaldo quando chegaram”, afirma Luigi. Houve posicionamento oficial de entidades. A Adufms é uma das signatárias da nota publicada pelo Sinasefe-MS (Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Mato Grosso do Sul).

O sindicato se solidariza, também, à estudante Amanda Ferreira, também da UFMS, que foi atingida por ovos durante o ato em Campo Grande na mesma data. Amanda foi acometida por um hematoma no local atingido. No caso da acadêmica, não foi possível identificar quem arremessou os ovos em sua direção.

Os casos se somam a outros, como o militante que foi perseguido após passar pela Avenida Olinto Mancini, em Três Lagoas, acusado falsamente de ameaças e solto apenas após a atuação de três advogados que, junto a militantes que se solidarizaram pelo caso, o auxiliaram. Anteriormente, conforme já abordado em nota anterior (Nota de solidariedade às vítimas da violência neofascista, 28/11/2022), o diretor do PCdoB e advogado Mário Fonseca relatou ameaças de um motorista de aplicativo que defendia o presidente Jair Bolsonaro.

Tais fatos chamam a atenção e causam preocupação não apenas pela agressividade envolvida, mas também pela recorrência de ocasiões semelhantes em um período tão curto. A violência e a intolerância têm sido banalizadas, mas não podem se tornar parte do cotidiano. A Adufms, além de se solidarizar às vítimas e de repudiar as ações cometidas por aqueles que não aceitam conviver em uma sociedade democrática, também exige do poder público comprometimento e celeridade nas apurações e no combate à violência política.

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Diversidade Educação Gênero

Pesquisadoras da UFMS propõem medidas para enfrentamento à violência de gênero

Estado é um dos líderes em violência contra a mulher no Brasil

Mato Grosso do Sul é uma das unidades da Federação que mais registra casos de violência contra a mulher no Brasil. Há mais de uma década, o estado tem mantido essa posição lamentável, oscilando entre os primeiros lugares em relação a feminicídio e agressão doméstica, sem contar os casos não notificados.

De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MS), a Polícia atendeu a 8.712 denúncias de violência de gênero entre janeiro e maio de 2022, uma média de dois casos a cada hora. Já o relatório “Violência Contra as Mulheres” de 2021 aponta que MS teve uma média superior à nacional em casos de feminicídio no ano passado (2,6 em cada 100 mil), mesmo tendo diminuído 14% em relação a 2020.

Um conjunto de fatores pode ser responsável pelos dados relativos à violência de gênero em MS. A naturalização dos casos e a pouca representatividade de mulheres é um dos motivos. O ex-prefeito de Campo Grande, Marcos Marcello Trad, por exemplo, foi denunciado por quatro mulheres que relataram acusações parecidas de assédio sexual. Na mesma cidade, a Câmara de Vereadores tem uma única membro mulher, Camila Jara (PT). Na Assembleia Legislativa do estado, também há apenas uma parlamentar mulher, a deputada Mara Caseiro (PSDB).

Na segunda semana de julho, uma postagem do acadêmico Lucas Müller, que estuda Medicina na UFMS, tomou repercussão nacional por debochar de um poema da artista e escritora Tracy Figg, no qual a autora trata dos temas de feminicídio e estupro, e se referia a um médico anestesista preso em flagrante por estuprar uma paciente. O texto original diz: “nem todo homem, mas sempre um homem”. Já Lucas fez uma analogia com casos de trânsito, reforçando o estereótipo de que mulheres não sabem conduzir automóveis, finalizando com “nem toda mulher, mas sempre uma mulher”. A Associação Atlética de Medicina da UFMS publicou uma nota em que repudia a fala, enquanto a Universidade afirmou que deve apurar a conduta do estudante.

Medidas para conscientização

A professora Dra. Constantina Xavier, que leciona na Faculdade de Educação (Faed/UFMS) e é coordenadora do Grupo Grupo de Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero (GepSex), afirma que a repercussão dos casos ajuda mulheres a tomar coragem para denunciar os agressores. “Essa é uma questão que causa muita culpa às mulheres. A própria vítima se sente muito mal nessas situações e precisa ser encorajada a denunciar. Esses fatos, embora sejam tenebrosos, nos fazem pensar e dão a essas mulheres a coragem, a condição de ser respeitada, seja nos órgãos competentes, seja falando abertamente sobre as situações”.

Constantina comenta que o caso de Lucas Müller demonstra uma falta de consciência sobre a violência estrutural. “É muito interessante o quanto um jovem do gênero masculino se sentiu ofendido com esse posicionamento, mas a questão é: como a gente pode trazer esses questionamentos para a universidade nos mais diversos cursos? No caso do curso de Pedagogia, temos uma disciplina obrigatória chamada Gênero, Sexualidade e Educação, que apesar de não resolver essas questões tão naturalizadas, já é um espaço de reflexão e legitimação dessa temática na estrutura curricular”.

Para a professora, a conscientização deve vir desde a educação básica. “Essas discussões deveriam acontecer em toda graduação, sobretudo nas que vão lidar com o ser humano – como Medicina –, mas em qualquer das áreas, essas temáticas têm que ser discutidas, para que o aluno possa refletir sobre essas situações, pensar nessas violências que são estruturais. Estamos falando não do homem ‘A’ ou ‘B’, mas de violências históricas e culturais que acabam por marcar sujeitos, a partir de diferenças, e no caso estamos falando da subjugação da mulher perante o homem”, afirma.

A pesquisadora também explica que a violência e a violação dos direitos não atingem apenas mulheres, mas toda população que está em vulnerabilidade em relação a homens heterossexuais. “O estado do Mato Grosso do Sul tem altos índices de violência contra a mulher e também de homofobia. A violência de gênero também afeta a população LGBTQIAP+. Essas violações atacam não só as mulheres, cis e transgênero, mas também são muito ruins para o estado. Não são só mulheres violadas, mas também crianças, por exemplo”.

Para que esses casos sejam denunciados e também evitados, Constantina destaca o papel da educação sexual, tema censurado por adeptos do ultraconservadorismo ligados ao atual governo brasileiro. “Isso tem que ser discutido nas universidades, nos projetos de extensão, e aí entramos em outra questão, que são essas políticas anti-gênero que querem calar e negar essas discussões nas escolas. Quando se fala em direitos humanos, violência de gênero, estupro e tudo mais, essa é uma discussão que deveria ser feita e problematizada nas escolas”.

“Infelizmente, esse momento tão triste, com situações que nos abalam, que nos constrangem, deixam perplexas e revoltadas, é o momento também de trazer à tona essa reflexão e falar da importância da sexualidade, gênero e direitos humanos nas práticas escolares, na educação básica como um todo e também nas universidades, nas suas práticas curriculares e pedagógicas”, finaliza a professora.

A professora Dra. Mariana Esteves, docente adjunta no Campus Três Lagoas (CPTL/UFMS), aponta que as comoções com casos de violência contra a mulher não podem ser separadas do processo de conscientização e que é necessário monitorar grupos que exaltam tal prática. “Há um aspecto muito perverso na misoginia e na violência de gênero. Existem pessoas que, alimentadas pelo ressentimento com o levante das mulheres, realizam mais e mais atos de violência.

Vemos que, quanto mais nos levantamos, isso não indica que os casos diminuam. A conscientização que a comoção realiza se dá a nível coletivo, mas não significa que em eventuais grupos não gere mais ódio”. Mariana explica que o clima político de crítica ao feminismo, além da visibilidade e eleição de figuras que promovem um discurso misógino, fortalecem o comportamento violento. “A violência de gênero tem muito a ver com ódio de gênero. Recentemente, com o empoderamento de sujeitos que representam esse ódio, os casos não só ficaram mais corriqueiros, com mais assiduidade, como há grupos que sentem um certo tipo de orgulho de anunciar que realizam essa violência. Porque do ponto de vista político, esses sujeitos são protegidos”.

A pesquisadora destaca que, mesmo durante as gestões de centro-esquerda, o Brasil não contou com uma política que focasse na educação de gênero e na informação. “Quando tivemos políticas mais progressistas, contraditoriamente tivemos pouca conscientização, pouca educação política. Nós fomos ter um processo maior de conscientização no bojo das Jornadas de Junho de 2013, mas ele foi muito capturado pela direita. Tem sido exigido das instituições, dos sujeitos e dos debates mais progressistas uma energia descomunal, porque ela foi capturada, inclusive com mediação das redes sociais e com um uso muito fomentado nas redes sociais”, afirma. “Se fundamentalmente voltarmos a um projeto político progressista, precisamos criar uma educação realmente politizada, não só abrir espaço de crédito ou de consumo”.

Mariana também afirma que se faz necessária uma presença maior das ciências humanas nas grades curriculares das escolas. “Em vez de diminuir as aulas de História e Geografia, que isso fosse revertido, que o aumento das aulas de Filosofia, de História, Sociologia e Geografia ganhasse força, e não o movimento inverso, enquanto a BNCC e a Reforma do Ensino Médio têm propensões muito mais voltadas ao mercado, à mão de obra e não para homens e mulheres na cultura de paz”.

Casa da Mulher Brasileira

Com sua primeira unidade inaugurada em Campo Grande, em 2015, durante o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), a Casa da Mulher Brasileira é um local para a ampliação do enfrentamento à violência de gênero, com espaços para denúncia, acolhimento, capacitação e encaminhamento. A capital sul-mato-grossense foi escolhida devido aos índices superiores à média do país.

De acordo com a instituição, ela reúne em um mesmo espaço (I) Juizado Especial voltado para o atendimento a mulher; (II) Núcleo Especializado da Promotoria, (III) Núcleo Especializado da Defensoria Pública, (IV) Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher, (V) Alojamento de passagem, (VI) Brinquedoteca,(VII) Apoio psicossocial, e (VIII) Capacitação para a sua autonomia econômica.

Mariana Esteves destaca o papel importante da Casa para o processo de superação dos dados de violência. “É necessária a ampliação da Casa da Mulher Brasileira – e Campo Grande já é uma das poucas capitais que têm uma unidade e que recebeu uma atenção especial, porque a ex-secretária de Violência contra Mulheres do governo Dilma foi Aparecida Gonçalves, que atuou por muito tempo em Campo Grande”.

A professora propõe que a instituição não sirva apenas para receber vítimas, mas também para educação, evitando casos futuros. “Que isso se estenda para outras cidades, outros estados, não só como um lugar que recebe e acolhe, de forma bastante completa, mas que também possa se estender do ponto de vista educativo e transformador, para receber homens e mulheres que não praticam violência, mas que se eduquem”.

 

 

Por Norberto Liberator (Assessoria de Comunicação – Adufms)

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Manifestações

Adufms integra ato ecumênico contra violência política no sábado

Ocorre neste sábado (16), em Campo Grande, o Ato Ecumênico pela vida, pela democracia e contra a violência, convocado por entidades sindicais, movimentos sociais e da juventude e partidos políticos. A Adufms é uma das organizações da sociedade civil que integrarão a manifestação.

O ato tem como objetivo protestar contra a escalada da violência com motivação política, conscientizar a população sobre o assunto e prestar homenagem à memória do guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado devido à sua opção política no último domingo (10), em Foz do Iguaçu, Paraná.

Os manifestantes se encontrarão no Calçadão da Rua Barão do Rio Branco, esquina com a Rua 14 de Julho, às 10h. Além da Adufms, também integram o ato a Fetems, Aduems, Sintsep, MST, CUT, UJS, PT, PCdoB, PV, Rede, PSB e Psol.

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Nota

Nota de repúdio ao aumento da violência política no Brasil

A Adufms vem a público se manifestar a respeito do crescimento da violência por motivações políticas no Brasil, conforme divulgado pelo relatório do Observatório de Violência Política e Eleitoral, órgão vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nesta segunda-feira, 11 de julho.

De acordo com o estudo, coordenado pelo professor Felipe Borba, no primeiro semestre de 2022, houve 214 registros de casos de violência motivados por divergência política no Brasil. É um aumento de 32,9% em relação a 2020, quando foi realizado o último levantamento anterior, foram 161 casos nos primeiros seis meses. Neste ano, a única unidade da Federação que não registrou casos do tipo foi o Amapá.

Embora o homicídio de Marcelo Aloizio de Arruda, no domingo (10 de julho) tenha gerado comoção nacional pelo contexto em que ocorreu, em sua festa de aniversário, o estudo aponta que houve 40 assassinatos por razões políticas,19 deles no último trimestre, dentre os quais quatro ocorreram no Paraná. Além dos homicídios, há ainda as ameaças, diretas ou contra familiares, geralmente realizadas por meios digitais, onde milícias virtuais agem sob o véu do anonimato.

Anteriormente, houve outros casos de ampla repercussão na imprensa e na opinião pública, como o despejo de resíduos via drone durante um ato político em Uberlândia, no dia 15 de junho, bem como a explosão de uma bomba caseira em um comício no Rio de janeiro, no dia 7 de junho. O documento aponta que, dentre as legendas, as que mais foram vítimas de casos de violência foram o PSD (19), Republicanos (18) e, em seguida, PT e PL (ambos com 17 casos).

A Adufms repudia com veemência a violência política e acredita que é por meio da diversidade de ideias que a sociedade progride, a partir da escuta, da discussão saudável e construtiva de propostas, bem como do diálogo. Somente a partir do debate democrático, compreensivo e plural poderemos crescer e construir um país com mais justiça e com liberdade para todas as pessoas, independentemente de seu posicionamento ideológico.