Plano de volta às aulas presencias da UFMS mente sobre imunização

Documento elaborado por Comissão de Biossegurança usa dados falsos ao afirmar que mais de 70% da população de MS está totalmente imunizada

A UFMS publicou, nesta segunda-feira (4), a aprovação do Plano de Biossegurança 5.0 da instituição, que dispõe sobre o retorno das aulas presenciais na universidade. O documento, que foi elaborado pela Comissão de Biossegurança e publicado por meio da Resolução 204-CD/UFMS, com a assinatura do reitor Marcelo Augusto Turine, não exige a apresentação de confirmação das duas doses (ou dose única) da vacina para alunos, docentes e funcionários da instituição, além de trazer dados falsos sobre a vacinação em Mato Grosso do Sul.

Na página 9 do documento, que faz parte do item 5 do plano (intitulado “Do comportamento individual, dos grupos de risco e da consciência coletiva”), a Comissão afirma que “em função de Mato Grosso do Sul ter alcançado recentemente a imunização completa de mais de 70% da população, recomenda-se o retorno às atividades presenciais”. No entanto, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a quantidade de pessoas com esquema vacinal completo no estado corresponde a 59,42% da população (dados de 6 de outubro de 2021).

Embora a SES-MS tenha divulgado, através de seu “vacinômetro”, a vacinação de 75% da população de Mato Grosso do Sul no mês de setembro, estes dados dizem respeito à primeira dose, ou seja, não correspondem à imunização completa, ao contrário do que afirma o documento formulado pela Comissão de Biossegurança da UFMS e assinado pela reitoria.

Apesar de haver 10 unidades da UFMS em todo o estado, o plano dispõe sobre testagem em casos de suspeita apenas no campus de Campo Grande, e afirma que o procedimento será realizado em Três Lagoas “quando estiver disponível a infraestrutura de análise na unidade” (p. 9), sem haver previsão de data para tal. O documento também determina o uso de máscaras, as quais são estabelecidas como responsabilidade individual para alunos; e competência das empresas contratadas, em casos de funcionários terceirizados. 

O documento não torna obrigatória a confirmação de imunização completa ou de vacinação, para prevenir a contaminação entre profissionais da universidade e estudantes, contrariando as orientações de especialistas e órgãos de saúde, como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), que defendem o chamado “passaporte sanitário”.

A Comissão de Biossegurança da UFMS, constituída em 6 de maio de 2020 pela reitoria, não conta com a participação de entidades representativas da comunidade acadêmica, impedidas de compor o órgão. Por parte da ADUFMS, houve solicitação para representação na comissão, vetada pela reitoria.

O professor Dr. Marco Aurélio Stefanes, presidente da ADUFMS, destaca que o clima de "volta à normalidade" é perigoso. "A situação epidemiológica ainda requer cuidado e atenção. Passar a impressão de que está tudo normal é um grave erro e pode desencadear uma terceira onda, como já aconteceu em alguns países", afirma.