Por uma universidade sem assédio e sem discriminação

O Mês da Mulher está chegando ao fim, mas a luta contra a opressão de gênero deve ser pautada diariamente. A Adufms tem acompanhado relatos envolvendo docentes e ocorrências dentro do ambiente universitário. Repudiamos qualquer caso de assédio ou violência sexual, além de manifestarmos preocupação com a falta de celeridade e de comprometimento da instituição em relação ao combate a crimes sexuais, bem como à repreensão de membros da comunidade acadêmica que os praticam, dentro ou fora da Universidade.

A Adufms havia solicitado, por meio do Ofício n. 37/2022, informações sobre quais seriam as medidas tomadas pela Reitoria a respeito das investigações que implicaram professores em casos de estupro e pornografia infantil. O documento foi enviado em dezembro e solicitava uma campanha da Universidade contra tais delitos. A Reitoria respondeu por meio do Ofício n. 534/2022, no qual afirma não ter conhecimento e que, portanto, não haveria ações de apuração. O mesmo documento afirma que a gestão estaria à disposição para esclarecimentos, que demandam apuração.

Embora a gestão da Universidade tenha afirmado, em dezembro de 2022, que ignorava o assunto, a prisão em flagrante de um professor e ex-coordenador da Faculdade de Odontologia (Faodo), por portar e compartilhar materiais de pornografia infantil, havia ocorrido em maio daquele ano. A notícia publicada pelo portal Campo Grande News à época afirma que o jornal entrou em contato com a Reitoria, que não respondeu.

No mesmo ano, uma estudante relatou ter sido filmada por um homem no banheiro neutro da UFMS. A jovem afirmou que estava utilizando o banheiro quando percebeu que uma mão com um celular a filmava por cima da divisória das cabines. De acordo com a acadêmica, o homem tentou intimidá-la ao ser questionado, mas um colega que passava pelo corredor no momento a auxiliou e obrigou o autor do assédio a demonstrar que o vídeo já não constava no aparelho. O caso foi levado à Corregedoria da instituição, mas não houve posicionamento oficial da UFMS.

No ano anterior, outro professor, que lecionava no Campus Pantanal (CPan), foi denunciado por suposta violência sexual contra dois sobrinhos menores de idade. De acordo com depoimento da sobrinha, então com 14 anos, o tio a teria estuprado durante cinco anos consecutivos durante as férias escolares, que a adolescente e seu irmão mais novo passavam em Corumbá. A gestão da Universidade afirmou, à época, que não havia sido notificada sobre o caso.

Campanha equivocada

Diante do caso recente envolvendo ilustrações da “Campanha Sou Mulher” da UFMS divulgadas no dia 16 de março, que traziam papéis invertidos no que diz respeito aos dados sobre assédio e à violência contra grupos marginalizados, é necessário ressaltar a importância da conscientização dentro da Universidade.

Um grupo de docentes se articulou para a produção de um manifesto, no qual inserem um conjunto de nove reivindicações, após a repercussão negativa sobre as postagens, que representavam mulheres e pessoas negras no papel de assediadoras.

Docentes que contribuíram para a criação do manifesto se reuniram nesta quarta-feira (28) com a Reitoria para entrega do documento e para pensar em medidas que evitem novas abordagens equivocadas. O documento está aberto a assinaturas (para compreender melhor o caso, acesse esta reportagem da Adufms).

Embora tenha havido retratação por parte da instituição, o que se constitui um avanço, a publicação demonstra que tal preocupação não existiu até então. Somado aos relatos aqui elencados, o ocorrido indica a necessidade urgente de se elaborar políticas específicas na Universidade quanto a assuntos relacionados à violência de gênero, um compromisso firmado pela Reitoria no encontro.

O professor Marcelo Victor da Rosa, que estava presente, explica que a conversa foi propositiva e a gestão escutou as demandas. “O reitor se mostrou aberto ao diálogo, a gestão agora sabe que profissionais que pesquisam o tema estão à disposição para auxiliar na elaboração de campanhas e outras iniciativas”.

Além de Marcelo, também participaram os professores Alberto Martins, Eugênia Portela, Jacy Curado, Lourival dos Santos, Tacinara Queiroz, Thaize Reis e Zaira de Andrade Lopes; a diretora da Agência de Comunicação Social e Científica (Agecom), Rose Mara Pinheiro; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Albert Schiaveto de Souza; e o reitor Marcelo Santos Turine.

Repúdio e combate

Os conteúdos das ilustrações na campanha sobre o assédio demonstram a falta de cuidado e de conhecimento básico sobre o tema, o que se soma à falta de posicionamento sobre os fatos citados envolvendo docentes e o próprio ambiente acadêmico, evidenciando um cenário de descaso para com a dignidade das mulheres e de grupos minoritários.

Em relação à resposta da Reitoria ao ofício enviado pela Adufms em dezembro, sobre os casos que implicam docentes em investigações de crimes hediondos, ambos os cenários são preocupantes. Caso a gestão da Universidade realmente não estivesse a par dos acontecimentos graves envolvendo professores da própria instituição – após meses em um caso e mais de um ano em outro – demonstraria falta de controle sobre o que ocorre envolvendo o nome da própria UFMS. Por outro lado, se a gestão sabia dos fatos citados e se isentou, nota-se o descaso e a desimportância com que trata o tema.

A Adufms acredita que o repúdio a todo tipo de assédio violência sexual é uma forma de demonstrar que a comunidade acadêmica não pode e não deve ser conivente com tais condutas que ferem a dignidade humana.
Incentivamos a realização de eventos, oficinas e outras iniciativas, bem como distribuição de materiais informativos, realizados sempre com cuidado e consulta a pesquisadoras/es, sobre temas como os limites do respeito, os artigos da Constituição que penalizam crimes sexuais e a que meios recorrer para realizar denúncias.

Por uma universidade sem assédio e sem discriminação!