Nota de solidariedade à família de Ñandesy Sebastiana e Ñanderu Rufino

A Adufms presta sua solidariedade à família de Ñandesy Sebastiana Kaiowá e Ñanderu Rufino Kaiowá, rezadores guarani-kaiowá assassinados na madrugada desta segunda-feira (18 de setembro), no território Guasuty (localizado no município de Aral Moreira).

A suspeita, de acordo com autoridades policiais, pessoas próximas ao casal e o Ministério dos Povos Indígenas, é de intolerância religiosa. Infelizmente, alguns evangelizadores que atuam em aldeias indígenas vêm há décadas incitando o ódio às formas tradicionais de fé e espalhando o medo contra tais espiritualidades, relacionando-as ao culto a demônios.

Defendemos a liberdade religiosa para cultos tradicionais e também para igrejas; no entanto, não é admissível que lideranças religiosas se utilizem da coerção, do terror psicológico e da incitação à violência para aumentar o número de fiéis de suas congregações.

O incêndio de casas de reza não é uma prática nova. Aproveitando-se do fato que o fogo se alastra facilmente devido aos materiais com que as construções são feitas, criminosos praticam atentados com fogo aos locais onde se pratica a espiritualidade indígena. Em 2021, por exemplo, a casa de reza do Tekoha Guapo’Y, em Amambai, também foi atacada. Não houve perdas humanas, mas a edificação foi totalmente destruída.

Pessoas que conheciam Sebastiana e Rufino afirmam que a violência contra a religiosidade tradicional tem crescido cada vez mais. É o caso de Aurélio Kaiowá, morador da aldeia Limão Verde, que apontou as ameaças sofridas. “Está cada dia mais difícil a prática de nossa reza nas aldeias demarcadas, por sofrer ameaças. E se não houver a prática da reza, significa que ela está morrendo aos poucos”, aponta.

Ele também explica que as ameaças eram rotina nas vidas das vítimas, que seguiam suas vidas de forma simples dedicando-se à manutenção da cultura de seu povo. “Viviam na casa de sapê, sem água encanada, sem energia elétrica, e vinham sofrendo ameaças de morte devido à prática religiosa, isto é, sua reza, que seguiam de acordo com o ensinamento do meu finado avô Atanásio”.

A Adufms repudia a intolerância religiosa que faz com que pessoas renunciem à sua humanidade e ajam contra as vidas de outras. A seção sindical ressalta que a diretoria tem mantido contato com pessoas próximas para os auxílios que forem necessários.

  • Ressaltamos também que o episódio não pode ser desvinculado das ações de pistoleiros a mando de grileiros de terras indígenas, os quais se aproveitam de divisões nas comunidades para coagir alguns de seus membros a espalhar o medo e o terror por meio de sabotagem a lideranças.

Pedimos às autoridades competentes que tomem medidas para investigar a possibilidade de haver ações coordenadas contra lideranças indígenas, bem como evitar que novos casos ocorram.


Comentários

Uma resposta para “Nota de solidariedade à família de Ñandesy Sebastiana e Ñanderu Rufino”

  1. Avatar de Suzir Palhares
    Suzir Palhares

    Muito importante se manifestarem!